ELEIÇÕES 2006 - PDT foi fundado depois que grupo de Brizola perdeu marca do PTB para Ivete Vargas

19/06/2006 - 19h29

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil

Rio - O Partido Democrático Trabalhista foi fundado no dia 26 de maio de 1980, no Rio de Janeiro, 14 dias depois de o Tribunal Superior Eleitoral decidir que a sigla do Partido Trabalhista Brasileiro ( PTB) devia ficar com o grupo de trabalhistas liderados por Ivete Vargas, política fluminense, sobrinha do presidente Getúlio Vargas, fundador do PTB.

A sigla do PTB era reivindicada por Leonel Brizola. Ele entendia ser o legítimo herdeiro da legenda do partido criado por Vargas e herdado por João Goulart. Brizola havia retornado do exílio um ano antes, em 1979, e queria que a histórica sigla desse nome a um novo partido trabalhista. A criação do novo partido havia sido idealizada no exílio por ele e por outros antigos trabalhistas, como Darcy Ribeiro e Doutel de Andrade, numa reunião em Lisboa, Portugal, em junho de 1979.

Segundo o ex-deputado José Maurício Linhares, um dos fundadores do PDT, as bases do novo partido estavam esboçadas na chamada Carta de Lisboa: "Fomos 150 brasileiros, dos quais 10 deputados federais, liderados por mim à época". "Posteriormente nós perdemos a sigla. Foi uma trapaça comandada pelo general Golbery do Couto e Silva (chefe da Casa Civil do governo do presidente João Figueiredo) em conluio com a senhora Ivete Vargas."

O PDT é filiado à Internacional Socialista e, no período em que foi planejado na capital portuguesa, contou com apoio do Partido Socialista Português, segundo Linhares. A Carta de Lisboa destaca: "O novo trabalhismo contempla a propriedade privada condicionando seu uso às exigências do bem-estar social. Defende a intervenção do Estado na economia, mas como poder normativo, uma proposta sindical baseada na liberdade e na autonomia sindicais e uma sociedade socialista e democrática".

Na época, o Brasil possuía apenas dois partidos políticos, MDB e Arena, e preparava-se para permitir o pluripartidarismo, ou seja, a existência de vários partidos no cenário político brasileiro, algo que, foi efetivamente permitido a partir de uma lei de novembro de 1979.

O cientista político João Trajano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explica o que havia por trás da disputa: "Era claramente uma tentativa de fragilizar o grupo de Brizola, tendo em vista que ele voltava do exílio com uma aura muito forte de grande opositor do regime
de 1964 e grande lutador na campanha pela legalidade em 1961".

Autor do livro "Brizolismo", Trajano diz que o PDT despontou como uma força política nos anos 80 e início dos anos 90. Mesmo com o surgimento de novas lideranças e partidos de esquerda, como o PT, ele diz que seu fundador e principal líder, Leonel Brizola, continuou a ser um personagem de grande expressão no meio político brasileiro, até sua morte, em junho de 2004.

Segundo o atual secretário-geral do PDT, Manoel Dias, em suas primeiras eleições diretas para governos estaduais e para o legislativo, em 1982, só o PDS (sucessor da Arena) e o PMDB (sucessor do MDB) tiveram melhor desempenho que o PDT. O partido elegeu, então, um governador (Brizola, no Rio de Janeiro), dois senadores e 24 deputados federais.

Brizola foi candidato à Presidência da República pelo PDT em 1989 e de 1994. Em 1998, foi candidato a vice, na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2002, o partido apoiou a chapa petista no segundo turno das eleições presidenciais que elegeu Lula e deixou a base governista em dezembro de 2003, por divergir da política econômica.

O PDT, diz Dias, baseia sua atuação em onze compromissos básicos, definidos em estatuto: desenvolvimento pleno da nação; educação em tempo integral para todas as crianças; trabalho e saúde para os brasileiros; salário justo para os trabalhadores; defesa do patrimônio publico; racionalização e democratização do Estado; realização da reforma agrária e aumento da produção agrícola; luta pelas causas das minorias; reformulação do sistema financeiro para o desenvolvimento nacional; defesa da dignidade da função publica e defesa do meio ambiente.

Ainda segundo Manoel Dias, o PDT está hoje representado no Congresso Nacional com uma bancada formada por 20 deputados e 4 senadores. Nos estados, o partido conta atualmente com 2 governadores (Amapá e Alagoas), 69 deputados estaduais, 305 prefeitos e 3.320 vereadores.