Movimentos sociais defendem ações locais na pauta de projetos para integração do continente

12/06/2006 - 17h48

Manaus, 12/6/2006 (Agência Brasil - ABr) - Os 12 países unidos na Iniciativa para Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (Iirsa) firmaram uma carteira de grandes projetos para a Amazônia, mas esqueceram a importância das pequenas ações locais. A crítica – feita hoje (12) pelo representante da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) da Organização das Nações Unidas (ONU), Ricardo Sanchez – teve eco na fala de outros estudiosos e líderes sociais que participaram da consulta pública promovida pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

"A Iirsa tem projetos e ambições desconexas. A integração entre dois oceanos [ Atlântico e Pacífico ] é a meta maior. Mas ela deve passar pela interconexão local", defendeu Sanchez, para quem é preciso "lembrar a lógica da acupuntura, que valoriza as pequenas aplicações em locais estratégicos".

O representante da Rede Brasileira sobre Instituições Financeiras Multilaterais e da Rede Brasileira para Integração dos Povos, Guilherme Carvalho, afirmou que "a concentração de recursos em partes do território não gera ondas desenvolvimento, só aprofunda as desigualdades regionais". Na opinião dele, "a Amazônia vai apenas sendo consolidada no papel de corredor de exportação e de fornecedora de produtos primários e energia".

A geógrafa Bertha Becker também observou que os documentos oficiais da Iirsa fazem poucas referências à interiorização do desenvolvimento. "O mercado, indiscutivelmente, é a tônica do programa. O objetivo é integrar o Norte e o Centro-Oeste, visando ao oceano Pacífico. Queremos nos aproximar do mercado chinês. Não é à toa que o Nordeste ficou de fora", analisou.

Para ela, a base da agenda de integração sul-americana deveria ser a inclusão social com competitividade global pautada nas riquezas naturais. "A água é o ouro azul do século 21. Vinte por cento das águas doces superficiais do mundo estão na Amazônia. Essa é a nossa vantagem competitiva", lembrou.

O secretário de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, Ariel Pares, também coordenador nacional da Iirsa, argumentou que "a região amazônica é estratégica porque representa uma rota curta para os países do Norte". E acrescentou que "no projeto, o sul e o norte do Brasil deixam de ser as pontas do país para virar centros da América Latina".

O projeto da Iirsa nasceu em 2000, como resultado da primeira reunião de presidentes sul-americanos. Até 2010, há a previsão de se investir US$ 5,2 bilhões em 31 projetos no continente, sendo 28 deles de transportes, dois de comunicações e um de energia. A verba vem do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Corporação Andina de Fomento (CAF) e do Fondo Financiero para el Desarrollo (Flonplata) .