Governo gasta mais com doenças de fumantes do que recebe com impostos do tabaco, diz professor

31/05/2006 - 16h44

Adriana Franzin
Da Agência Brasil

Brasília - "O governo arrecada muito dinheiro com o imposto da produção de tabaco, mas gasta muito mais tratando as doenças relacionadas ao tabaco", afirmou o professor de pneumologia da Universidade de Brasília, Carlos Viegas. Em entrevista concedida hoje (31), Dia Mundial Sem Tabaco, à TV Nacional, o professor disse que de cada dois fumantes, um morre precocemente de uma causa relacionada ao vício.

Ele ressaltou que o cigarro não causa apenas doenças do pulmão, mas atinge todos os órgãos: "As substâncias contidas no cigarro circulam por todo o organismo e causam doenças em outros órgãos além do pulmão. Por exemplo: hoje sabemos que câncer de bexiga está diretamente relacionado ao tabagismo".

Segundo o professor, as substâncias cancerígenas do cigarro são cumulativas, e, em alguns casos não há chance de reversão, é o caso do depósito de metais pesados no fígado e do enfisema pulmonar. O primeiro passo para parar de fumar, observou, é reconhecer-se como um dependente. Ele disse que essa dependência, além de química, é psicológica, por isso é necessário um tratamento que envolva o uso de medicamentos e a prática de terapia cognitiva-comportamental.

"Infelizmente, parar de fumar é possível, mas é muito difícil", salientou Viegas. Ele explicou que só é considerada como ex-fumante, a pessoa que não fumar durante o período de um ano. Ele lembrou que recaídas são muito comuns durante o tratamento: "Nos bons centros de tratamento, 50% das pessoas conseguem parar de fumar na primeira tentativa".

De acordo com Viegas, o tabaco é o segundo maior problema da saúde pública mundial (a fome seria o primeiro). O hábito de fumar, aconselha Viegas, deve ser desestimulado desde a infância, já que "80% dos fumantes começaram a fumar com idade inferior a 18 anos". O professor ressaltou que o comportamento dos pais pode incitar o vício nas crianças e que o fumante passivo sofre as mesmas conseqüências e corre o mesmo risco de quem fuma.

Ele disse ainda que a campanha que apresenta fotos chocantes no verso das embalagens das carteiras de cigarro tiveram um impacto positivo: "Fizemos uma pesquisa a respeito disso e 70% dos fumantes disseram que passaram, pelo menos, a considerar a possibilidade de parar de fumar, mas aquilo tem que ser renovado, porque as pessoas acabam se acostumando".