Técnica afirma que fome é a mais severa manifestação da insegurança alimentar

17/05/2006 - 9h39

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil

Rio - A coordenadora de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Márcia Quintslr, explicou que o conceito de insegurança alimentar é bem mais amplo. Segundo ela, a fome é considerada a mais severa manifestação da insegurança alimentar.

No entanto, o fato de o indivíduo preocupar-se com a falta de dinheiro para adquirir alimento suficiente para os próximos dias, já caracteriza uma condição de insegurança alimentar, que se agrava passando por vários estágios.

De acordo com a técnica, a lógica da evolução do problema é a seguinte: primeiro há a preocupação de que a comida acabe, depois vem a perda da qualidade da alimentação e, por último, uma redução na quantidade, que chega ao extremo quando a privação leva à fome. Além disso, "uma situação de insegurança alimentar normalmente atinge primeiro os adultos, já que há uma tendência natural de que as crianças sejam poupadas" afirmou Márcia.

Até hoje, os números relacionados à fome no Brasil eram obtidos somente a partir de dados sobre o rendimento familiar e a definição de linhas de pobreza. Um estudo inédito divulgado hoje pelo IBGE permitiu avaliar diretamente a questão da alimentação com moradores de 140 mil domicílios em todo o país.

O estudo usa os dados da Pesquisa Nacional Domiciliar (PNAD) de 2004, foi feito a pedido do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e contou com a participação de pesquisadores da Unicamp responsáveis por desenvolver a Escala Brasileira de Medida de Percepção de Segurança Alimentar e Fome (Eiba).

A metodologia foi criada a partir de um modelo americano adaptado à realidade brasileira e testada em Campinas (SP) e Brasília. Levantamentos em escala nacional sobre a segurança alimentar, só foram realizados até agora nos Estados Unidos.

O foco domiciliar foi utilizado na pesquisa por que o consumo de alimentos é uma prática compartilhada na família. Se uma das pessoas sofre restrição alimentar, isso diz respeito a todos que convivem sob o mesmo teto. A técnica do IBGE, Márcia Quintslr, lembrou, por exemplo, situações em que mães se privam de alimentos para garantir que os filhos não passem fome.