Acidentes de trabalho no Brasil estão "debaixo do tapete", diz coordenador do Ministério da Saúde

28/04/2006 - 13h49

Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A discussão sobre acidentes e doenças do trabalho no Brasil ainda é "subvalorizada", avalia o coordenador de saúde do trabalhador do Ministério da Saúde, Marco Perez. "O nosso país ainda esconde isso muito debaixo do tapete", afirmou Perez em entrevista à Agência Brasil . Ele defende que haja uma mobilização social maior em relação ao tema para diminuir o número de acidentes e doenças em ambientes de trabalho. "Essa discussão ainda é colocada na porta dos fundos, na entrada de serviços. Precisamos discutir isso mais de frente com a sociedade brasileira", disse.

Hoje (28) é o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. Os ministérios da Saúde, Trabalho e Previdência Social, entidades sindicais e movimentos sociais realizam atos públicos em todo o país. "Hoje é um dia de reflexão, de lembrar milhares de trabalhadores que morreram ou perderam a qualidade de vida devido às condições de trabalho", destacou Perez.

De acordo com o ministério da Saúde, há, em média, 300 mil acidentes de trabalho por ano no Brasil. Os dados se referem apenas aos trabalhadores com carteira assinada, o que representa cerca de 35% da população economicamente ativa. "Dados da previdência social mostram que em 4 anos, de 1999 a 2003, ocorreram quase 8 mil mortes. Só nesse percentual de trabalhadores com carteira assinada", afirmou Perez. Ele lembrou que se levar em consideração os trabalhadores sem carteira assinada o número de acidentes de trabalho aumenta.

"Isso não se discute, é banalizado", declarou. Para Perez, o problema deve ser pautado na sociedade brasileira. "Muitas vezes, quando uma pessoa morre devido a um seqüestro, isso aparece na primeira página do jornal. Mas quando uma pessoa morre de acidente de trabalho não aparece nem em nota funerária. E acidente de trabalho mata, é evitável, é grave e não deveria acontecer", destacou.

Além de não haver mobilização social, Perez disse que a falta de diálogo nos ambientes de trabalho também agrava os casos de acidentes e doenças do trabalho. "Muitas vezes o trabalhador tem medo de perder o emprego, o que prejudica o diálogo com o empregador e acaba fazendo com que ele se submeta a condições de trabalho muito precárias no nosso país", ressaltou.