Paulo Machado
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Brasil consumiu em 2005 cerca de R$ 10 bilhões em agrotóxicos, segundo o Sindicato Nacional das Industrias de Defesa Agrícola. Com o ritmo de crescimento da agricultura brasileira, o desafio é saber como os órgãos públicos acompanham a fiscalização da utilização de veneno em larga escala.
Segundo o professor César Koppe Grisólia, do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB), existe um descompasso nessa relação. "Os órgãos de fiscalização não têm uma estrutura que acompanhe a expansão das fronteiras agrícolas. Tem ocorrido uma fiscalização, mas muito aquém do problema do uso do agrotóxico no Brasil."
Autor do livro Agrotóxicos: mutações, câncer e reprodução, Koppe explica que são três os órgãos públicos responsáveis pela fiscalização nacional dos agrotóxicos. Compete ao Ministério da Agricultura a fiscalização do uso agrícola adequado dos agrotóxicos. Ao Ministério da Saúde e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cabem a questão de saúde ocupacional do trabalhador e da exposição humana ao veneno. O Ministério do Meio Ambiente e seu órgão executivo, o Ibama, são responsáveis pela questão dos impactos ambientais e efeitos sobre os meio ambiente.
Segundo o pesquisador, a maioria dos agrotóxicos faz algum mal para a saúde: pode ser neurológico, reprodutivo, ou até causar câncer. "Nem todos causam câncer, mas aumentam o risco de causar câncer", disse. A contaminação crônica por agrotóxico por inalação pode levar em longo prazo a problemas pulmonares como a fibrose pulmonar. A intoxicação crônica por inseticidas tipo organofosforados pode levar mais tarde a pessoa a desenvolver uma espécie de mal de Parkinson, com tremedeiras, com efeitos neurológicos. "Dependendo do tipo de agrotóxico, você vai ter um tipo de lesão no organismo, característico da molécula de agrotóxico", explicou.
Existem estudos mostrando que determinadas formulações de agrotóxico causam alterações até no material genético. "Nós trabalhamos aqui na Universidade de Brasília com pesquisas sobre os efeitos dos agrotóxicos sobre os peixes. Nos peixes, os agrotóxicos alteram as células sanguíneas, modificam o formato dos glóbulos vermelhos, alteram o comportamento natatório e provocam mortalidade", acrescentou.
Ele alertou que "se os peixes estiverem contaminados com inseticidas organoclorados que se acumulam nos organismos aquáticos, essa contaminação pode ser transmitida ao homem que consome o peixe contaminado".
Para ele, a pulverização de agrotóxicos causa muitas perdas para o meio ambiente: "Através da nuvem de agrotóxico que se espalha além do campo da agricultura, as pessoas se contaminam por meio da ingestão de água, pela pele e através da respiração de partículas de agrotóxicos no ar. O excesso de agrotóxicos nos alimentos deixa resíduos na casca ou em produtos que são consumidos in natura como as folhas verdes. A pele é muito permeável aos agrotóxicos que entram e atingem a corrente sanguínea causando dores de cabeça, tremores, intoxicação intestinal e no fígado".
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