Caderneta infantil terá novo padrão ideal de peso para crianças para detectar obesidade

27/04/2006 - 13h06

Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O gráfico presente usado para acompanhar o peso e a altura das crianças, nos cartões infantis, vai mudar. O novo padrão da curva de crescimento infantil foi apresentado hoje (27) em evento promovido pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Uma das principais mudanças é o detalhamento da obesidade infantil, um problema que tem crescido em todo o mundo nos últimos anos. Segundo o consultor da OMS, César Victora, que participou da elaboração da nova curva, o gráfico usado atualmente tem como padrão uma criança de maior peso. Já o novo usa como modelo ideal uma criança que foi amamentada pela mãe. "A criança amamentada é menos obesa. Ela tem um crescimento mais adequado, mais normal, mais saudável. Portanto, a nova curva vai identificar mais precisamente quem está já começando a ficar obeso", explicou.

A nova curva de crescimento foi elaborada pela OMS com base no desenvolvimento de 8,4 mil crianças de seis países, entre eles o Brasil. O estudo e a elaboração do modelo levaram cerca de dez anos para serem concluídos. No Brasil, foram acompanhadas 800 crianças no município de Pelotas. Também participaram desse trabalho Estados Unidos, Noruega, Gana, Omã e Índia. Para fazer parte dessa análise, foram escolhidas crianças de famílias com renda acima de seis salários mínimos que foram amamentadas pelas mães.

A curva é usada para acompanhar o desenvolvimento das crianças desde o nascimento até o cinco anos de idade. Os estudos realizados para a definição do novo padrão identificaram que a alimentação adequada, os cuidados de saúde e o ambiente em que a criança vive são fatores mais determinantes no crescimento do que características étnicas ou o sexo.

O novo modelo de curva de crescimento já está nas cadernetas da criança produzidas pelo Ministério da Saúde. Mas os cartões distribuídos pelos estados e municípios ainda precisam ser adaptados. O diretor do Departamento de Atenção Básica do ministério, Luís Fernando Sampaio, disse que a substituição será feita gradualmente.

A recomendação é que os pais continuem usando o modelo atual. Quando a nova caderneta chegar, as informações serão transferidas pelos profissionais de saúde. "Nós não vamos fazer um processo de mudança radical. Não é uma emergência", esclareceu. "Os pais têm que acompanhar a curva de crescimento como ela está hoje e, a medida em que forem feitas as substituições, isso vai chegando às famílias".

Sampaio informou que será feita uma capacitação dos profissionais de saúde sobre a importância do novo modelo. Segundo ele, são mais de 40 mil unidades básicas de saúde em todo o país. "São centenas de milhares de profissionais que trabalham e que têm que ser capacitados para esse processo de mudança", afirmou.