Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio – O processo de retomada da indústria de construção naval brasileira só será possível se houver investimentos na qualificação dos profissionais por meio do esforço integrado entre governo, centros de pesquisa e dos próprios estaleiros.
A conclusão é de um estudo desenvolvido em parceria pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
De acordo com o professor da Coppe Floriano Pires, há dois desafios que envolvem a área de recursos humanos do setor: além da carência de profissionais, falta qualificação suficiente para garantir competitividade no mercado internacional.
"Existem poucos trabalhadores, principalmente nas faixas intermediárias. A maioria dos profissionais da área naval é muito jovem, está entrando no mercado agora, ou é muito velha, de uma época anterior, quando era intensa a atividade desse setor", afirmou Pires, durante a apresentação hoje (25) dos resultados do estudo Programa de Capacitação Tecnológica da Indústria de Construção Naval.
Na avaliação dele, é não bastam apenas programas de treinamento de profissionais para atender à demanda imediata para recuperar a indústria de construção naval. Ele defende a implementação de centros de formação mais prolongados, capazes de desenvolver profissionais com um perfil que atenda às necessidades atuais do mercado.
"Um novo padrão tecnológico vai demandar perfil de trabalhadores que a gente não tem e nunca teve. Nosso trabalhador não se parece com os que operam nos grandes estaleiros do mundo. Eles precisam ser multifuncionais, com mais escolaridade, capazes de interagir com sistemas de informação sofisticados", observou.
Segundo ele, a própria indústria vai perceber que os padrões tecnológicos atuais demandam um novo trabalhador "e vai investir nisso também, como é feito nos estaleiros internacionais".
Outro desafio apontado pela pesquisa é a defasagem tecnológica entre os estaleiros nacionais e os líderes no mercado mundial, que, segundo o professor do IPT James Weiss, estão principalmente no Japão e na Coréia. "Para construir navios grandes em condições compatíveis com o mercado internacional, a gente vai ter que melhorar muito, principalmente em planejamento, método, controle e gestão da produção. Nessas áreas a defasagem é muito grande", afirmou.
O estudo faz parte de um programa tecnológico promovido pelo Centro de Excelência em Engenharia Naval e Oceânica (Ceeno). O objetivo é definir as melhores práticas para planejamento e construção de navios competitivos no mercado internacional.