Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Entidades ligadas ao movimento negro e de direitos humanos lançaram hoje (21) a campanha Não Matem os Nossos Jovens: Eu Quero Crescer. A campanha é uma extensão do movimento iniciado em 1991, que usou como base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para alertar a população sobre o número de jovens pobres e negros mortos no país.
A campanha, organizada pela Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), foi retomada para mostrar à população que o extermínio da população jovem negra não diminuiu e sim aumentou. O Conen pretende ainda pressionar os governos estaduais a elaborarem e desenvolverem políticas públicas voltadas para essa população.
Segundo um dos coordenadores do Conen, Julião Vieira, dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que a cada ano morrem, pelo menos, 30 mil jovens no Brasil. "A faixa etária é de 14 a 25 anos de idade e a grande maioria é de pobres, negros, moradores das periferias dos grandes centros urbanos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e alguns estados da região Norte".
Vieira disse ainda que, com a campanha, o Conen pretende mostrar à população que, para construir uma nação igualitária, justa e democrática é preciso manter a juventude viva.
Ele explicou que na avaliação do Conen o governo estadual de São Paulo – onde se inicia a campanha a ser ampliada para todo o país – não tem cumprido com seu papel na recuperação e formação dos jovens que vivem nas periferias. "Não há nenhum programa ou projeto voltado para essa juventude. Muito pelo contrário. Não há ações para resolver o problema do extermínio, do desemprego da juventude".
Para reverter o quadro o Conen acredita que é preciso atenção principalmente à questão do trabalho, enfatizou Vieira. "Existe um número grande de jovens que se formam nas universidades e ensino técnico, mas não conseguem entrar no mercado de trabalho". A campanha fará ainda um movimento para ampliar e garantir a implementação de cotas para negros nas universidades públicas e privadas.
A campanha continuará em Salvador, onde será realizado um seminário nacional, previsto para maio, no qual os estados receberão informações sobre a necessidade de as entidades voltadas ao movimento negro realizarem ações públicas e reuniões com os secretários estaduais de segurança pública, educação e trabalho onde houver. "Isso para retomar essa discussão de alguns projetos que existem na esfera federal, mas que por alguma dificuldade não são implementadas pelos governos estaduais".