Brasil tem mais de 2 mil instalações radioativas sem segurança adequada, aponta relatório

21/03/2006 - 18h31

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Brasil tem mais de 2 mil instalações nucleares e radioativas que funcionam sem acompanhamento adequado no que diz respeito à segurança, afirmaram os deputados membros da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em relatório aprovado hoje (21).

A usina de produção de energia elétrica Angra 2 e a mina de exploração de urânio de Caetité (BA), por exemplo, funcionam irregularmente com autorizações provisórias, segundo levantou o grupo de trabalho da Comissão que elaborou o diagnóstico sobre a segurança das atividades que envolvem fontes nucleares e radioativas.

Além disso, o grupo de trabalho constatou que a destinação dos rejeitos nucleares e radioativos no Brasil ainda é precária. Eles revelaram que o único depósito definitivo no país é o de Abadia de Goiânia (GO), onde está depositado o lixo radioativo transportado da Avenida Paranaíba, Setor Central de Goiânia, onde em 1987 ocorreu o maior acidente radioativo do país.

Na época, catadores de papel encontraram uma bomba de césio 137 usada num equipamento radiológico de uma clínica desativada. Cerca de 300 pessoas foram contaminadas, em diferentes graus, pela fonte radioativa manipulada pelos catadores e por donos de ferros velhos que compraram partes da fonte.

Os deputados apontam ainda no relatório que as piscinas que guardam o rejeito das usinas Angra 1 e 2 são provisórios e, segundo pesquisadores ouvidos, a capacidade desses depósitos pode não ultrapassar o ano de 2015. O controle de fontes radioativas também foi considerado falho pelos deputados.

"Os profissionais ligados à Associação dos Fiscais em Energia Nuclear, que nos ajudaram voluntariamente com informações valiosas, nos deram conta de que não confiam no banco de dados que a CNEN [Comissão Nacional de Energia Nuclear, que regula e fiscaliza as atividades do setor] opera. Eles disseram que o banco de dados é desatualizado e não dá a verdadeira dimensão de quantas fontes são e de onde estão", disse o relator do documento, deputado Edson Duarte (PV-BA).

Outro problema apontado pelo grupo de trabalho é o fato de não haver planos de emergência para atuar diante de acidentes nucleares ou radioativos. "O Brasil mostrou que não aprendeu a lição com Goiânia", observou. Eles constataram que o plano de evacuação das usinas de Angra, por exemplo, sofreu alterações sem que a população local fosse esclarecida sobre os motivos.

"Eles reduziram o raio de segurança e proteção, de 15 quilômetros para 5 quilômetros. Não tivemos da Eletronuclear, que opera as usinas, uma explicação convincente para tal decisão. É um contrasenso. No mundo inteiro, principalmente depois de Chernobyl, há uma tendência de aumentar o raio de atuação de planos de emergência", relatou Duarte, citando o acidente nuclear ocorrido na Ucrânia em 1986, considerado um dois piores no mundo.