Alessandra Bastos*
Repórter da Agência Brasil
Costa Marques (RO) - Nove postos da Polícia Federal vão vigiar, a partir deste ano, a fronteira do Brasil com a Bolívia. O primeiro foi inaugurado hoje (17) pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no município Costa Marques, em Rondönia, na operação Brabo (Brasil-Bolívia). Outras oito operações fiscalizam as fronteiras brasileiras, cobrindo toda a érea fronteiriça do país, que soma 12.114 quilömetros.
"O posto faz parte de um processo iniciado em 2003, quando foi criada na Polícia Federal uma coordenação especial de operações de fronteira. Estamos trabalhando nas fronteiras de todos os países limítrofes nossos", afirmou o ministro, ao inaugurar o local.
A 800 quilömetros da capital, Porto Velho, o município de Costa Marques não tem rádio, nem telefones celulares. A pesca e a extração de madeira são as duas atividades econômicas e também as principais preocupações dos órgãos de fiscalização.
O rio Guaporé divide os dois países. Para fugir da fiscalização, basta atravessar o rio e pescar na margem boliviana, onde a atividade é liberada. "Temos que respeitar o território boliviano. Então, o pessoal se vale disso. Quando há fiscalização, atravessa o rio para o outro lado", disse o chefe interino do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Nébio Casara.
A fiscalização no rio Guaporé terá como objetivo inibir o contrabando e a entrada ilegal de imigrantes. O maior desafio, entretanto, será o combate ao tráfico de drogas. De acordo com a Polícia Federal, 70% da cocaína consumida no Brasil vem da Bolívia. "Na América do Sul, o tráfico de drogas é o problema do crime organizado transnacional que mais se expõe. Necessitamos de combater todos os crimes, não apenas o narcotráfico, mas ele é o carro-chefe dessa missão", explicou o coordenador de Operações Especiais de Fronteira, delegado Mauro Sposito.
A principal estratégia da Polícia Federal contra o narcotráfico será a área de inteligência. "Com a Lei do Abate, mudou muito a tecnologia e a logística dos traficantes. Eles estão usando rotas terrestres e rotas fluviais. O nosso trabalho é de concentração no planejamento estratégico e em operações de inteligência cada vez mais fortes", disse Thomaz Bastos. "A prova disso é que a Polícia Federal, nesses três anos, fez mais de uma centena de operações contra todo tipo de crime, e não disparou um tiro", afirmou.
A Polícia Civil do município encontra hoje problemas para inibir os traficantes e espera que a atuação da Polícia Federal possa ajudar no trabalho. "A gente trabalha mais com investigação porque aqui é complicado, pelo fato de que a gente fica marcado e passa a não poder nem ir à esquina tomar um suco", disse o policial civil Rilson Ricanço. Segundo ele, os policiais civis fazem o levantamento para os federais, que não residem aqui.
Os postos funcionarão de forma integrada. Além de policiais federais, trabalharão nos postos profissionais da Receita Federal, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Delegacia Regional do Trabalho e Agëncia Nacional de Vililäncia Sanitária.
A expectativa é de que, até o final do ano, os nove postos estejam em funcionamento. As fronteiras com a Colômbia, Suriname, Venezuela, Paraguai, Uruguai, Argentina, Guiana e Peru já possuem fiscalização.
*A repórter viajou a convite da Polícia Federal e do Ministério da Justiça.