Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Os agricultores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estão dispostos a permanecer no terreno do Projeto de Irrigação Salitre, em Juazeiro, no norte da Bahia, mesmo com o fim do prazo definido pela Justiça Federal para a desocupação da área. A Justiça determinou que os sem-terra devem deixar o local até hoje (17) à tarde.
A área, pertencente à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), foi ocupada pelos sem-terra na madrugada de segunda-feira (12). Na terça-feira, a Codevasf obteve na Justiça um mandado de reintegração de posse.
Hoje (17), representantes do MST e da Codevasf participaram de uma reunião em Juazeiro, que foi convocada pelo procurador da República Anderson Vagner Góis dos Santos com o objetivo de buscar um consenso entre os dois lados. Tanto MST como a Codevasf consideraram a reunião positiva, por abrir espaço para a retomada do diálogo.
O superintendente da Codevasf em Juazeiro, Alcides Modesto, disse, no entanto, que as negociações só vão avançar se os sem-terra deixarem o terreno. Mas, segundo uma das lideranças do MST, Durval Dias, a ocupação deve continuar. Segundo ele, a decisão deve ser tomada hoje à tarde em conjunto pelos sem-terra que estão no acampamento.
"Mas tenho absoluta certeza de que vamos continuar na área", disse. Pelos cálculos do Ministério da Integração Nacional, 200 famílias de agricultores ligados ao MST permanecem no local.
Para Dias, não houve avanço em relação à principal reivindicação do movimento na reunião, que é o assentamento imediato de 800 famílias no projeto Salitre, que poderia resolver o problema da falta de acesso à terra.
"O MST não está fazendo afronta à Justiça, a gente respeita a decisão, mas não se pode transferir um problema de um lugar para outro. Se os sem-terra saírem de lá e forem para outro local, o problema não será resolvido, isso só vai acontecer no momento em que houver uma solução definitiva para a falta de terras", afirmou Dias.
De acordo com Alcides Modesto, a reunião intermediada pelo Ministério Público Federal não foi de negociação, mas de esclarecimento. "Estamos muito confiantes de que essa reunião vai contribuir para que haja uma desocupação pacífica e, com isso, nós poderemos retomar os entendimentos no sentido de uma negociação da pauta que eles apresentaram", acrescentou.
O superintendente informou que o eventual atendimento às reivindicações depende da atuação de órgãos como o Ministério da Integração Nacional, a quem a Codevasf é ligada.