Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O intercâmbio comercial entre Brasil e China ganhou impulso a partir de 2000, passando de US$ 2,3 bilhões naquele ano para US$ 12,18 bilhões em 2005. A entrada de produtos chineses saltou de US$ 1,22 bilhão em 2000 para US$ 5,35 bilhões em 2005. As exportações brasileiras para aquele país cresceram ainda mais - de US$ 1,08 bilhão para US$ 6,83 bilhões. E o Brasil saiu de um déficit de US$ 135,20 milhões para um superávit de US$ 1,48 bilhão na corrente comercial com a China.
Apesar do saldo positivo para o Brasil no intercâmbio entre os dois países, alguns setores da indústria brasileira alegam que estão sendo prejudicados pela concorrência dos produtos chineses. É o caso dos fabricantes de calçados, brinquedos, eletroeletrônicos, óculos e máquinas para a produção de plásticos, entre outros. Segundo a coordenadora da Unidade de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria, Soraya Rosar, estes setores já estão se preparando para pedir algum tipo de salvaguarda contra a China.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Maziat, informou, em entrevista exclusiva à Agência Brasil, que "um número grande de setores" já apresentou seus pleitos à Secretaria de Comércio Exterior (Secex). "Estes pleitos estão sendo examinados pelo departamento de defesa comercial. Muitas vezes, ao procurar o governo, o setor muda de instrumento, opta por um antidumping ou uma salvaguarda geral", conta Maziat.
Em todos os casos, segundo ele, o governo tentará, primeiro, negociar um acordo de restrição voluntária semelhante ao fechado para o setor têxtil. Mas para outros segmentos da indústria a negociação pode ser bem mais difícil. "O setor têxtil é tradicionalmente controlado e não há um comércio livre. Talvez por isso os chineses se dispuseram a conversar e firmar acordos. Com relação a outros produtos, os chineses sempre se mostraram extremamente contrários a qualquer tipo de acordo", diz o secretário de Comércio Exterior.
Ele conta que em setembro de 2005, quando o governo brasileiro iniciou efetivamente as negociações com a China, levou junto uma relação de 17 segmentos que já estavam preocupados com o aumento das exportações chinesas para o Brasil. "Os chineses não quiseram conversar sobre outros setores", revela o secretário de Comércio Exterior.
Já o vice-presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, Paulo Bastos, acredita que há uma disposição dos chineses para negociar. "Eles dizem que o Brasil é prioritário em termos de complementaridade e não querem bater de frente", revela. Bastos destaca que à China interessam, basicamente, comoddities como papel e celulose, álcool e soja.
Por outro lado, o gigante asiático quer exportar manufaturados. "A Câmara tem trabalhado no sentido de convencê-los de que, se investirem no Brasil, não terão surpresas no abastecimento que precisam. E se montarem fábricas aqui seus produtos serão mais competitivos nas Américas", conta. "Os acordos devem começar a explorar estas complementaridades", opina.