Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O relatório do Programa Amazônia, que está sendo discutido por representantes do governo e da sociedade civil, indica que o objetivo do plano é contribuir para o desenvolvimento da Amazônia, com ações que promovam a proteção e o uso sustentável dos recursos naturais e valorizem a diversidade biológica e cultural.
Para tanto, governo federal tem dois projetos em andamento que deverão ser ampliados junto com o programa: a fiscalização de áreas públicas, para evitar queimadas e desmatamentos, e o incentivo a famílias para trocarem de atividade como, por exemplo, substituir a agricultura pelo manejo florestal – forma de extrair produtos da floresta (madeira) sem destruí-la. O diretor do programa de Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Tasso Azevedo, ressalta que a agricultura não será uma atividade descartada, mas o manejo florestal "vai ser muito importante na matriz de produção familiar".
O engenheiro florestal da organização não-governamental (ONG) Instituto de Floresta Tropical, Maximiliano Roncoletta, explica que os agricultores serão incentivados a participar de reuniões e conhecer a aplicação da técnica para então decidir se querem trocar de atividade. "Se a pessoa não apresenta interesse, a gente não descarta, pois muitas vezes ela está esperando seu vizinho se dar bem pra que possa aplicar uma técnica", disse. A ONG é uma das parceiras do ministério para as atividades de manejo florestal que, desde 1995, são apoiadas pelo Programa Piloto para as Florestas Tropicais Brasileiras (PPG-7).
Para incentivar as famílias, os ministérios do Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário lançaram na última segunda-feira (13) um edital para projetos de formação de agentes técnicos em manejo florestal e assistência técnica (ferramenta que oferece treinamento, sobretudo, àquele que faz o manejo em pequena escala, que é o caso das comunidades). Os projetos aprovados podem ser financiados pelo Programa de Apoio a Agricultura Familiar (Pronaf). "É a primeira ação em grande escala para fazer a gestão da floresta", diz Azevedo.
O engenheiro afirma que convencer as famílias a utilizar a floresta de forma sustentável não é o problema. Mas o "fazer", acrescenta, depende muito da perseverança, apoio e principalmente da assistência técnica.
Segundo o diretor, a resistência se dá "por uma visão de muitos anos de que floresta era um empecilho para a agricultura, que era preciso limpar para poder produzir. Isso tem que ser recuperado. A pessoa está acostumada a criar boi e, de repente, tem que criar árvore. É um trabalho de longo prazo". Ele destaca que não conhece "nenhuma comunidade que não estava disposta a trabalhar com floresta. Mas ela precisa acreditar e ver que isso pode ser um meio de vida".
No Pará, a instrução sobre o manejo começou com a abordagem de três engenheiros florestais, seis técnicos e seis operadores. Em quase dez anos, 2.500 pessoas foram treinadas. Maximiliano conta que, em 1997, foram treinadas apenas 15 pessoas e de lá pra cá, cresce a procura a cada ano. Hoje "42% do nosso público são estudantes de nível médio", diz. O engenheiro explica que a demanda se deve ao fato de que "quem está lá dentro da floresta decidindo o que fazer é o técnico e não o engenheiro, que está no escritório". Segundo ele, não há um estudo que mostra a quantia de áreas que foram preservadas do desmatamento ou recuperadas por meio do manejo.