Índio Guarani é assassinado no Mato Grosso do Sul

25/12/2005 - 13h39

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O índio Guarani-Kaiowá Dorvalino da Rocha, de 40 anos, foi assassinado a queima-roupa ontem (24) por volta do meio-dia no município de Antonio João, no Mato Grosso do Sul.

De acordo com relato do articulador político do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Marcelo Brito, Dorvalino estava na porteira que dá acesso à área de 26 hectares destinada ao povo Guarani-Kaiowá quando um carro parou com três pistoleiros, que já desceram atirando. Dorvalino morreu a caminho do hospital. A situação dos índios "é caótica", diz o prefeito de Antonio João, Junei Marques.

Só neste ano, 24 índios foram assassinados na região, o que representa dois terços dos assassinatos em todo o país. Os dados constam no Balanço anual do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo. Em todo o país, em 2005, 36 índios foram assassinados no Brasil, principalmente em disputas por terras com fazendeiros. O balanço também aponta que, de 61 tentativas de assassinato, 24 aconteceram no estado.

A Polícia Federal (PF) informa que não cabe ao órgão a investigação e que a competência é da Polícia Civil. "Acho um absurdo, em se tratando da morte de um índio eles não serem responsáveis. A gente fica indignado. Esta é uma tentativa de tirar o corpo fora. Quem tirou eles da área foi a PF. Estão tentando se omitir de uma responsabilidade", contesta o coordenador regional do Conselho Missionário Indigenista (CIMI), Egon Hick.

O agente Eugênio Nicholas, responsável pelo plantão local da Polícia Federal de Campo Grande, explica que "por ser um assassinato, a competência é da Polícia Civil, mesmo se tratando de um índio. A PF só pode interferir se houver pedido da Justiça Federal ou do Ministério Público".

O corpo de Dorvalino foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) de Ponta Porã (MS). O agente Paulo, da PF do município, afirma que "ainda não se sabe o que ocorreu. É cedo para afirmar se houve assassinato. O pessoal ainda não retornou de lá. Hoje é Natal, não dá para resolver com urgência", disse ontem (24) no início da noite à Agência Brasil.

No último dia 15, após decisão judicial que suspendeu a demarcação das terras Nhande Ru Marangatu, os índios Guarani-Kaiowá foram despejados pela Polícia Federal no Mato Grosso do Sul. Um contingente de 730 índios, quase 300 crianças, ficaram à beira da estrada, entre as cidades de Bela Vista e Antônio João, a 340 quilômetros de Campo Grande.

A desocupação ocorreu de forma pacífica. Mas, enquanto os índios retiravam os seus pertences do local, fazendeiros atearam fogo nas casas. Com base na denúncia feita pela Agência Brasil, o Ministério Público abriu inquérito para averiguar a possível omissão da polícia.

No dia seguinte, fazendeiros tentaram passar uma boiada pela estrada. Foi preciso que o prefeito interviesse para evitar que o gado destruísse os barracos que os índios começavam a construir.

O coordenador regional do Cimi conta que havia um "tensionamento" por causa dos incidentes ocorridos após o despejo. "Uma realidade tensa misturada a um clima de reconstrução", diz. Apesar do clima nervoso e dos incidentes dos últimos dias, a polícia não fazia a segurança da área.

No final da tarde de sexta-feira (23), o assessor da presidência da Funai, Odenir Oliveira, foi para o local analisar a situação.

Na tarde de ontem (24), o prefeito de Antonio João foi até o local. "Me disseram para não ir porque poderia haver represálias. Mas muito pelo contrário, fui muito bem recebido", afirma. A prefeitura preparava uma festa de Natal para os índios. "Levei presente para as crianças, estávamos preparando uma festa para o Natal, mas a morte estragou o natal. Ele era uma pessoa muito querida e os índios estão com muito medo", diz Junei.