Bispo diz que Lula abriu nova fase de debates sobre integração do São Francisco

15/12/2005 - 21h50

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Em setembro, um religioso chamou a atenção do país para as críticas de pesquisadores e movimentos sociais ao projeto do governo federal de integração do rio São Francisco a outras bacias do Nordeste. Dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra, no Oeste baiano, fez uma greve de fome de 11 dias contra a obra.

Hoje (15), totalmente recuperado, ele foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois conversaram por quase duas horas. Ao final, Dom Cappio comemorou o que chamou de abertura de uma nova fase de debates sobre a obra. Houve uma primeira fase de debates, com cerca de 50 audiências públicas organizadas pelo Ministério da Integração Nacional. O bispo considera que essas audiências não aceitaram opiniões contrárias à obra. A greve de fome foi encerrada com o compromisso do governo de retomar o diálogo.

Essa reunião de hoje com Lula "dá início à participação da sociedade na discussão de um modelo de desenvolvimento, baseado na convivência com o semi-árido, que priorize os direitos dos pequenos. Pelo que ouvimos do presidente, a discussão será feita com começo, meio e fim, mas até que se chegue a uma conclusão satisfatória, seja por parte do governo, seja por parte da sociedade", avalia Dom Cappio, que conheceu Lula em 1994 e participou com ele da Caravana da Cidadania pelo Rio São Francisco, percorrendo o curso d'água da nascente à foz.

"Hoje, Lula disse para mim que com relação a esse projeto da transposição vai agir sempre com serenidade. Tivemos uma conversa entre amigos e confirmamos nossa confiança mútua. Saímos satisfeitos com a proposta do presidente de manter aberta a discussão. Era tudo que desejávamos", afirma o religioso.

Dom Cappio entregou ao presidente um documento no qual enumera 10 motivos para ser contrário à obra. De acordo com ele, permanece a compreensão de que "não levará água a quem tem sede". Sobre a possilidade de realizar uma nova greve de fome caso as obras do projeto sejam iniciadas, o religioso diz que enquanto houver disposição para o debate por parte do governo federal, o diálogo será respeitado e acolhido. "Agora, se não houver esse respeito, pensaremos o que fazer".

O bispo também apresentou sugestões paa uma "reforma hídrica" no semi-árido brasileiro, com ações que possibilitem a democratização da água. Ele admite a possiblidde de, caso a sociedade concorde, a integração ser feita dentro da reforma hídrica. "Pode ser que a sociedade chegue à conclusão de que um projeto de transposição seja viável. Um projeto, mas não esse. Deverá ser outro projeto que realmente beneficie os pobres do semi-árido".