Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O sub-relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios (CPMI), deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), disse hoje que existem "fortes suspeitas" de que as empresas de transporte de carga aérea Beta e Skymaster pagavam propina para autoridades dos Correios e da Varig Log para manterem os contratos do Correio Postal Noturno. Cardozo apresentou uma planilha de abril de 2002 de acerto de contas da Beta e da Skymaster.
Nessa planilha, existe um ítem que trata de "acerto" com a ECT e com a Varig. No caso dos Correios, está registrado o pagamento de R$ 123.047,02, ou seja, 2,5% do faturamento líquido do contrato com a empresa. Para a Varig, a planilha registra um "acerto" de R$ 7.794,90 e, ao lado, está escrito "comissão de 1,5%".
O dono da empresa Beta, Ioanis Amerssonis, foi inquirido hoje pela CPMI sobre esses pagamentos. Ele negou que a empresa tenha se utilizado de propina para garantir os contratos com os Correios. "A Beta não precisava pagar propina para ninguém. Quem precisava da Beta era os Correios. A Beta é a única empresa que presta esse tipo de serviço. Se nós parássemos, as correspondências teriam que ser transportadas por rodovia", afirmou Amerssonis.
Durante o depoimento, foi exibida gravação em vídeo de uma conversa ocorrida em 2002, da qual participavam Ioanis Amerssonis o ex-presidente da Beta, Antônio Augusto Conceição Morato Leite Filho, além de um diretor da empresa. A conversa, segundo José Eduardo Cardozo, era sobre uma planilha de custos da Beta. Num determinado momento, Antônio Augusto questiona ao diretor da empresa: "Cento e vinte paus é acerto do Correio, né? E tem mais trinta mil...vinte e oito mil que é Varig".
Questionado pelo sub-relator sobre o conteúdo da gravação, que foi analisada pelo perito Ricardo Molina de Figueiredo, o dono da Beta disse que estava na reunião "como ouvinte" e que caberia ao ex-presidente da Beta esclarecer os fatos ali narrados.
Antônio Augusto comentou, em nota à imprensa, o conteúdo do vídeo apresentado na CPMI. "Ao contrário do que quis fazer crer a CPMI, o diálogo não traduz irregularidade alguma. A conversa parece apontar - já que apenas pequeno trecho foi apresentado - para fechamento de contas envolvendo empresas que transportam grande quantidade de cargas nos mesmos trechos, em especial a rota Manaus-São Paulo".
Como toda a gravação ainda não foi periciada por Ricardo Molina, o sub-relator de Contratos não encerrou o depoimento de Ionais Armessonis. Ele foi apenas suspenso e será retomado na próxima terça-feira, às 15h.