Mylena Fiori
Enviada especial
Hong Kong (China) - O terceiro dia de negociações da 6ª Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) começou em clima tenso. Depois de vetar, na última madrugada, a fixação de uma data para o fim dos subsídios à exportação, o comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, resolveu se explicar, alegando que a Europa aceitaria marcar tal data desde que a decisão incluísse o fim dos chamados subsídios indiretos pagos pelos Estados Unidos e outros países – como créditos à exportação e ajuda alimentar.
A justificativa irritou os membros do G 20 – grupo de 21 paises em desenvolvimento que pede redução dos subsídios agrícolas. "A justificativa é uma falácia total. É um falso argumento", disse ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim. "Eles dizem que não podem reduzir os subsídios porque isso deixaria de lado as outras formas distorcivas empregadas por outros países. Não é verdade. Ou se aplica a todos, ou não se aplica a nenhum", afirmou Amorim.
O acordo referente ao fim dos subsídios à exportação, fechado em julho de 2004, lista todas as iniciativas distorcivas de comércio que deveriam ser eliminadas, mas não marca uma data para isso. Diante do impasse nas negociações em Hong Kong, os países em desenvolvimento decidiram concentrar esforços em áreas que efetivamente poderiam avançar, como a fixação desta. "Não é que os subsídios à exportação sejam mais importantes do que o resto, mas, neste caso, a bola está em frente ao gol e só falta chutar, ao contrário de outros temas", justificou Amorim.
Para o ministro, se a União Européia aceitasse marcar a data - provavelmente 2010, como proposto por diversos países - isso sinalizaria disposição de continuar negociando em outras áreas em 2006. "Infelizmente, estão usando argumentos que são tão absurdos e tão pouco críveis, que só nos fazem crer que falta vontade política" desabafou Celso Amorim minutos antes de entrar em uma reunião do G20 com Peter Mandelson. "Vejo isso tudo, confesso, com um pouco mais de pessimismo. Procuro guardar meu otimismo até o último momento, mas vejo esses argumentos como desculpa para não fazer o dever de casa que eles têm que fazer".