Dirceu ainda não decidiu sobre recurso, mas resolveu processar agressor

01/12/2005 - 19h26

Iolando Lourenço e Juliana Cézar Nunes
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O ex-deputado José Dirceu, que teve o mandato cassado pelo plenário da Câmara na noite de ontem (30), recorreu, várias vezes, durante o processo, ao Supremo Tribunal Federal e à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. No entanto, um dia após a cassação, Dirceu ainda não sabe de que forma vai recorrer da decisão. Ele aguarda agora uma avaliação dos advogados.

"Neste momento, não tenho ânimo até para recorrer ao STF. Mas vou continuar lutando em defesa da minha inocência", afirmou Dirceu, que já decidiu processar o escritor Yves Hublet, de 67 anos, que o agrediu na última terça-feira (29) com uma bengala com ponta de ferro. "Se eu não tivesse me esquivado, poderia ter ficado seriamente machucado. Lamento que algumas pessoas estejam comemorando a agressão. Não podemos cometer o erro de incentivar a violência", disse ele.

Hoje (1º), em entrevista à imprensa, Dirceu informou que vai contestar a cassação com argumentos jurídicos, mas ressaltou que não pensa em fazer qualquer comentário que deslegitime a decisão tomada ontem no plenário da Câmara. O ex-presidente do PT e ex-chefe da Casa Civil disse que não tem mágoa ou ressentimentos dos colegas que o condenaram.

"Não tenho mágoa ou ressentimento. Se tivesse, já teria tido infarto ou algum problema renal", brincou. "Mas considero a cassação política uma aberração. Ninguém pode ser cassado sem provas. Espero que esse passado arriscado não se volte contra a democracia", acrescentou.

Dirceu criticou a linha de investigação seguida por alguns integrantes das comissões parlamentares de inquérito. Ele disse que tem acompanhado todos os depoimentos e entrevistas e acusou o relator da CPMI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de contraditório:
"Uma hora ele acusa alguns deputados de terem se beneficiado dos empréstimos feitos para o PT, em outro momento diz que os empréstimos não existiram. É no mínimo uma contradição".

"Infelizmente não sou mais deputado ou presidente do PT. Se eu fosse, seguramente a situação seria outra, com perdão da falsa modéstia", afirmou. Peguntado sobre como agiria diante das possíveis falhas das comissões, Dirceu preferiu não responder e disse que não deveria ter feito a afirmação anterior, considerada por ele um excesso.

Durante a entrevista, o ex-deputado também se recusou a comentar a atuação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "O ministro Palocci é imprescindível para o Brasil. Com relação às críticas à política econômica, acho que hoje outros já fazem esse papel".

Sobre o PT e o governo federal, Dirceu reconheceu erros, mas destacou o esforço que tem sido feito para solucioná-los. Para ele, o partido e o governo têm condições de se recuperar e vencer a eleição presidencial no ano que vem. Sobre as eleições em si, o ex-ministro alertou para a necessidade de reformas políticas.

"Se a verticalização cair e a cláusula de barreira diminuir, vai ficar como o diabo gosta. É preciso ter cuidado com isso", afirmou Dirceu. "Sou contra o caixa 2. Mas para acabar com ele é necessário fortalecer os partidos, não enfraquecer. Quero saber se o Congresso fará uma reforma política ampla, geral e irrestrita."