Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio – Os tiroteios e conflitos nos morros cariocas interferem não apenas na vida da comunidade local, mas, cada vez mais, também com o restante da população carioca. Nesta semana, milhares de pessoas que passam pelas vias próximas aos morros da Rocinha e do Vidigal, na zona sul do Rio, tiveram que mudar a rotina.
A funcionária pública Artemisis Martins, moradora da Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade, precisa passar pelas duas favelas diariamente no caminho de casa para o trabalho, no centro da cidade, do outro lado dos morros. Os caminhos mais próximos para chegar ao destino são o Túnel Zuzu Angel, que passa embaixo da Rocinha, e a Avenida Niemeyer, que margeia o Morro do Vidigal.
Nos momentos em que os conflitos se acentuam em uma das duas favelas, Artemisis Martins tem que repensar seu trajeto. Nesta semana, por exemplo, com a morte do traficante Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-te-vi, chefe do tráfico na Rocinha, no último sábado (29), as operações policiais e as ameaças de invasões da favela por grupos rivais aumentam os riscos de tiroteios.
"Eu tenho que ficar atenta, para perceber como estará a situação naquela área, no momento em que eu sair do trabalho. Da forma como as coisas estão, o mais indicado é evitar passar por lá. Tenho medo de tiroteio, tenho medo de bala perdida. Esse pânico nos leva a um estado psicológico de muita insegurança. Você sai para trabalhar com medo, tendo que arriscar sua vida todos os dias", relata.
Em alguns momentos, quando as chances de confronto são maiores, Artemisis chega a desistir de voltar para casa. Ela conta que prefere dormir na casa de sua irmã, localizada em Botafogo, na zona sul da cidade, para não cruzar a Rocinha ou o Vidigal. "Eu tenho meu kit emergência. Então, nem volto para casa. Na casa da minha irmã já tem tudo meu lá: roupas, escova de dente. Tudo para que eu não precise me arriscar a passar por aquele lugar", afirma.
Há dois meses, o engenheiro Alberto Trope, morador de Laranjeiras, na zona sul, decidiu mudar definitivamente seu trajeto de casa para o trabalho, na Barra da Tijuca. Agora, em vez de trafegar pela Avenida Niemeyer ou pelo túnel Zuzu Angel, ele prefere usar uma estrada que passa pela zona norte da cidade. "O caminho mais longo, mais tortuoso e minha despesa é maior. Mas acabei fazendo opção porque a minha tranqüilidade é maior também. Não passo pelo estresse ou de ficar preso em um túnel com problema de assalto ou de passar pelo Vidigal ao lado de um tiroteio", conta o engenheiro.
No último sábado, uma troca de tiros na Rocinha fechou o Túnel Zuzu Angel por 50 minutos. A situação deixou em pânico centenas de motoristas que voltaram na contramão ou abandonaram seus carros na via.