Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher do estado de São Paulo, delegada Márcia Buccelli Salgado, disse acreditar que menos de um terço dos casos de agressão contra as mulheres é registrado nas delegacias. Segundo ela, não há estatísticas policiais para comprovar esse dado, porque a polícia trabalha apenas com as ocorrências efetivamente registradas.
"Mas a gente tem conhecimento, através de consultas a sites de algumas entidades que trabalham nessa linha de pesquisa. E o que se divulga é que na verdade nem um terço do que acontece chega para nós e eu acredito que seja isso mesmo", afirmou.
Segundo a delegada, em 2004, foram registradas cerca de 320 mil ocorrências nas 125 delegacias de atendimento à mulher do estado de São Paulo. No mês passado, com a construção de uma delegacia no município de Barueri, o estado passou a contar com 126 unidades. Na avaliação de Márcia Salgado, o combate à violência contra a mulher passa por uma "revolução social".
"Acho que ainda estamos engatinhando para que essa revolução possa ocorrer", observou a delegada, em entrevista à Radiobrás. "Talvez os nossos filhos, nossos netos, possam viver numa sociedade menos agressiva, menos distorcida e mais sadia", completou.
A coordenadora também afirmou que muitos casos de violência contra a mulher não chegam à polícia porque, na maioria das vezes, o agressor é o próprio parceiro da vítima. "É difícil criar essa consciência e entender que ela não precisa se sujeitar a esse tipo de vida só porque aprendeu que o relacionamento que deveria escolher na idade adulta deveria ser para sempre."
Segundo a delegada, uma das características desse tipo de violência é que a mulher só procura uma delegacia depois de ter sido agredida mais de uma vez. "Quando ela chega, ela acaba relevando, acreditando que aquilo vai acabar. Depois de perceber que se não tomar uma atitude essa violência vai persistir, ou se agravar, é aí que ela acaba a procurando a delegacia".
De acordo com Márcia Salgado, a violência contra as mulheres ocorre em todos os níveis culturais e em todas as faixas de renda. "Mas a gente atende muito mais as pessoas menos favorecidas em função de elas terem a delegacia como primeiro e único recurso. E a partir do nosso registro é que ela passa a ser encaminhada para um advogado ou para um psicólogo", disse.
Segundo a delegada, o diferencial é que geralmente as mulheres com maior poder aquisitivo chegam à delegacia por via indireta. "Dificilmente elas procuram diretamente a delegacia, mas sempre acabam chegando a ela orientadas pelo advogado de família, por uma amiga próxima."