Lílian de Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O histórico do setor agrícola indica que a área já teve diversas facilidades nos financiamentos. De acordo com o economista especializado em agricultura Aécio Cunha, da Universidade de Brasília, "até 1980, os juros eram baixos. Em alguns casos, chegavam até a ser negativos".
Ele conta que a situação mudou a partir daquela década, quando boa parte dos subsídios ao setor foi retirada. "O ápice da crise ocorre com a chegada do Plano Real, em 1994", explica o economista.
Por isso, segundo Cunha, o governo de Fernando Henrique Cardoso, que assumiu no ano seguinte a Presidência da República, foi obrigado a tomar algumas atitudes. "Os grandes produtores pressionaram. Em 1995, as dívidas foram negociadas no que ficou conhecido como securitização", relata.
Este processo oferecia prazos de pagamento estendidos e taxas menores aos produtores com dívidas de até R$ 200 mil. Já os débitos acima deste valor foram contemplados no Programa Especial de Saneamento de Ativos (Pesa).
Cunha ressalta que pouco mais de 300 mil produtores conseguiram aderir a uma dessas opções porque "as exigências eram muitas e pesadas". Em 2002, conta ele, uma nova proposta foi elaborada: os agricultores e pecuaristas receberiam vantagens na renegociação das dívidas, como juros fixos de 3% ao ano. "Apesar das mudanças e dos benefícios, o pagamento das dívidas quase não se alterou. Isso aconteceu porque essas medidas visaram somente aos grandes produtores", argumenta o economista.
O vice-presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto, afirma que tanto as ações adotadas durante o governo Fernando Henrique como as do governo Lula são importantes para o setor. No entanto, ressalta que "a dívida agrícola deve ter um tratamento específico e de acordo com as fragilidades e as intempéries a que estamos submetidos".