Assis Linhares, catador de lixo, faz seu protesto no Grito dos Excluídos

07/09/2005 - 14h25

Juliana Andrade e Luciana Vasconcelos
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – O catador de lixo Assis Linhares, morador da Vila Estrutural - uma das regiões mais pobres do Distrito Federal - é um chefe de família que vive com menos de dois salários mínimos por mês. Ele sustenta a mulher e quatro filhos com cerca de R$ 350, valor que ganha recolhendo materiais recicláveis na área do Lixão da Estrutural. Segundo ele, o lixo é a única fonte de renda de aproximadamente mil moradores da região.

Linhares participou da 11ª edição do Grito dos Excluídos, organizado pela Campanha Jubileu Sul, pela Cáritas Brasileira, e pelos movimentos dos Trabalhadores Sem Terra, dos Trabalhadores Desempregados, Nacional dos Catadores e por entidades sociais. "Nada mais excluído do que um catador de lixo", disse. Segundo dados do IBGE apurados em 2003, cerca de 15 milhões de famílias vivem com renda inferior a R$ 600 por mês - ou seja, menos de dois salários mínimos.

"Aqui no Distrito Federal, a maioria mora numa área de exclusão e de risco, que é a Estrutural. Nossa luta é justamente para que a sociedade saiba que existe um cidadão trabalhador - que é uma das peças mais importantes no equilíbrio ambiental do planeta - que vive passando fome, necessidade, e se misturando com o próprio produto do seu trabalho, que é o lixo", acrescentou.

Em manifesto, representantes de movimentos sociais que participaram do protesto, na Esplanada dos Ministérios, pediram mudanças na economia e na política, para reduzir a exclusão social no país. "A sociedade brasileira está dilacerada pelo desemprego, pela pobreza, pela fome, pela violência e pela corrupção, o que nos deixa revoltados e, por momentos, desesperançosos", diz o manifesto.

Para a mudança desse quadro, os movimentos sociais apontam, no texto, quatro desafios: construir um novo modelo econômico, com criação de empregos e distribuição de renda; implantar um programa emergencial para a superação da miséria e da exclusão social; e promover uma reforma política, "que devolva ao povo o direito de decidir sobre as questões estratégicas do país".

Por último, eles defendem a aplicação de políticas capazes de garantir a soberania nacional, assim como os interesses da população relacionados à "economia, território, riquezas, biodiversidade, empresas públicas, Banco Central, água, sementes, petróleo, gás e política externa".