Especial 3 – Moradores se dividem entre anseio por proteção e medo de confrontos e arbitrariedades

06/09/2005 - 10h42

Vítor Abdala
Repórter da Agência Brasil

Rio - A Rocinha é normalmente policiada por um efetivo de 60 policiais, do Batalhão do Leblon, que mantém um destacamento na favela. Mas, desde o dia 22 de julho, homens da unidade de elite da Polícia Militar, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), passaram também a ocupar o morro, em uma operação especial para desarticular o tráfico de drogas na comunidade.

A presença dos policiais de elite dentro da favela, fardados de preto e fortemente armados, transforma o dia-a-dia dos moradores da Rocinha, que se dividem sobre a operação da polícia na comunidade.

Daniele, 23, trabalha fora da favela em uma empresa de organização de festas. Ela nasceu, cresceu na Rocinha e hoje tem uma filha de cinco anos de idade. A jovem concorda com a presença policial e acredita que isso pode ajudar na redução da criminalidade. O problema, segundo ela, é que os policiais não sabem lidar com os moradores.

"A maioria não respeita idoso, criança. Eles dão tiro, não querem saber quem está na rua, acham que é obrigação nossa saber quem é traficante e quem não é. Eles têm que entender que a comunidade é muito grande e que nem todo mundo se conhece. Um dia, eu estava passando na rua da minha casa, eles me deram um tapa na nuca e me mandaram ir embora. Hoje, eu tenho medo de sair com minha filha de cinco anos na rua", relata.

A estudante Daiana, 17, passou toda a vida na Rocinha e conta que, além da violência policial, os moradores ainda sofrem com o medo das balas perdidas. "Eles (os policiais) já chegam atirando, falando para todo mundo sair da rua. Às vezes, a gente, que está vindo da escola ou do trabalho, pára em algum lugar para se proteger, porque está com medo de uma bala perdida", diz.

A segurança dos filhos é o que preocupa Valdo, 35, um piloto de mototáxi, meio de transporte comum nas favelas cariocas. Pai de dois filhos, ele concorda com a presença da polícia nas ruas, mas teme os tiroteios. "Moro lá há 10 anos, com a mulher e dois filhos. Um deles tem problemas de audição. Tenho medo de que ele fique na rua. Nesse vaivém, acontece de ter um tiroteio, e daí? Ele não escuta, não faz nada. Tem que ter alguém pra cuidar dele", afirma o morador, que também trabalha como porteiro em um prédio da zona sul do Rio.

Técnica de enfermagem, Sandra, 50, conta que, apesar do risco de confrontos e de arbitrariedades, sente-se mais segura com a presença da polícia nas ruas da Rocinha. "O poder não está nas mãos de meia dúzia de marginais. O poder está com a polícia, que é ordeira, tem que ser ordeira. Ela existe para isso. Não é para provocar uma situação irregular. Não é pra estar agredindo um morador, não é pra estar atirando em ninguém", argumenta ela, para ponderar em seguida: "Por outro lado, se o policial chega e é recebido com uma bomba lançada por um bandido, ele não pode chegar dizendo 'oi, boa tarde'".