Projeto na UFRGS busca respostas sobre o tempo do uso de células-tronco após descoberta da doença

03/09/2005 - 17h25

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Até quanto tempo depois da descoberta de uma doença o uso terapêutico de células-tronco pode ser eficiente? Essa é uma das perguntas para as quais a equipe do professor Carlos Alexandre Netto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), buscará respostas. O projeto da universidade foi um dos 41 selecionados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para desenvolver estudos com células tronco no país durante os próximos dois anos.

Carlos Alexandre Netto é professor do Departamento de Bioquímica da UFRGS e é médico pós-doutorado em neurociência. Há cerca de seis meses, ele vem testando a viabilidade de células-tronco adultas, obtidas da medula óssea de ratos, implantadas no cérebro desses animais. Agora, com o projeto financiado pelo governo federal, as pesquisas vão envolver o uso de células-tronco em ratos com isquemia cerebral.

"O que nós buscamos, na pesquisa pré-clínica (experimentos com animais), é demonstrar os possíveis mecanismos envolvidos e estabelecer, nos animais, alguns parâmetros funcionais, como a janela terapêutica, ou seja, até quanto tempo depois do evento pode-se injetar as células-tronco, quais são as melhores vias de administração e como essas células estão agindo", exemplificou ele.

Segundo o especialista, o estudo investigará, nos ratos, três tipos de isquemia, entre os quais aquele que é chamado de global. "Esse modelo – cujo estudo que já está em andamento, que é a isquemia global transitória – é o que acontece, por exemplo, quando uma pessoa tem um infarto ou uma disfunção grave do coração, em que pára a circulação sanguínea. Então, todo o organismo sofre com a falta de circulação, mas o cérebro, como tem um metabolismo muito especial, vai ser o mais afetado, então isso causa uma lesão em seres humanos que é muito parecida com essa que acontece nos ratos do nosso modelo", explicou. O professor aponta que outro foco do estudo com células-tronco em ratos é a lesão raqui-medular.

O médico lembrou que, no Brasil, há pesquisas clínicas (experimentos em seres humanos) relacionadas ao uso de células-tronco adultas para o tratamento de lesões isquêmicas cerebrais. "Esse estudos mostram que existe uma recuperação funcional dos pacientes que é melhor após o implante de células-tronco do que quando se faz outro tipo de tratamento", observou Netto. "Nossos estudos correrão, ao que tudo indica, paralelamente aos primeiros estudos clínicos, que têm como objetivo demonstrar a segurança do procedimento."

Sobre a permissão do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas no Brasil – com a aprovação da lei de Biossegurança, em março – o professor considerou a "decisão sábia". "Quem domina o conhecimento e desenvolve as técnicas para o uso de determinadas terapias certamente poderá contribuir melhor para a melhoria da qualidade de vida da população do seu país", afirmou.

O especialista disse, contudo, que o fato de a pesquisa ter sido liberada não significa que o país terá resultados mais rapidamente ou que esses resultados serão mais favoráveis à população. "As células-tronco aparecem agora como a possível cura para uma série de doenças até hoje consideradas de difícil tratamento ou incuráveis, mas a própria pesquisa vai se encarregar de demonstrar quais são as limitações. Não temos a ilusão de que as células-tronco serão úteis para tratar todas as patologias, mas nós temos boas indicações de que, em parte das doenças, principalmente das degenerativas, elas terão um potencial de uso bastante grande."