Coordenador admite que sistema de captação de órgãos é heterogêneo nos estados brasileiros

18/08/2005 - 0h04

Adriana Franzin
Da Agência Brasil

Brasília - O coordenador do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Roberto Shlindwein, admitiu no programa Diálogo Brasil, exibido em rede pública de televisão na noite de ontem (17), que a captação de órgãos para transplantes é "muito heterogênea nos estados brasileiros". Segundo Shlindwein, "nós temos estados que fazem praticamente todos os tipos de transplante, com possibilidade de captação em todo o seu território, e estados em que ainda existem algumas dificuldades no processo de transporte de equipes por distâncias muito grandes, ou por hospitais não estruturados".

Shlindwein participou do programa no estúdio da TV Nacional, em Brasília, ao lado do militar aposentado Sócrates Rosa Filgueiras, que é paciente renal. E lembrou que a distribuição de órgãos respeita uma ordem de pontuação que é feita por três critérios principais: compatibilidade sangüínea, anatômica e genética com o doador, necessidade de urgência e tempo de espera na lista. Mas ressalvou: "O Brasil tem uma população muito solidária e além de financiar os transplantes, é a maior interessada em doar".

No estúdio da TV Cultura, em São Paulo, o ator Norton Nascimento, que tem o coração transplantado, fez um apelo ao ministro da Saúde, Saraiva Felipe, para que apóie a campanha de doação de órgãos Sou do Bem: "Ministro, veja essa campanha com muito amor. Quando você dá esmola, dá resto; quando você doa um órgão, está doando o melhor que tem. Que nós provoquemos na sociedade a necessidade de conversar com os nossos familiares sobre doação".

Atualmente, quase 63 mil pessoas dependem de transplante no Brasil e de acordo com dados do Ministério da Saúde referentes ao mês de maio, só para transplante de coração 293 pessoas estão na fila de espera. O militar aposentado Sócrates Filgueiras se disse indignado com a falta de recursos na capital federal, onde apenas um hospital é autorizado a fazer os transplantes: "Eu tive um amigo que fazia hemodiálise junto comigo, na maca ao meu lado, foi chamado para fazer o transplante do Hospital de Base. Ele estava preparado na mesa cirúrgica e não foi transplantado. Sabe qual foi a justificativa? Faltava anestesia".

No estúdio da TVE Brasil, no Rio de Janeiro, o vice-presidente da Associação dos Renais e Transplantados do Estado do Rio de Janeiro (Adreterj), Alfredo Pereira Duarte Filho, defendeu que a população deveria fazer também a sua parte em vez de culpar o estado: "Na verdade, o que a gente faz é cobrar dos governantes, exigir equipamentos, hospitais, mas a gente não faz o mínimo que só depende da gente". Ele destacou que toda pessoa é doadora – basta informar à família.

Segundo o ator Norton Nascimento, é preciso provocar nas famílias conversas sobre doação de órgãos. Ele argumentou que falta informação para a população e que "algumas religiões ainda não permitem que seus filhos doem os órgãos. O medo das pessoas é achar que o filho não vai estar morto quando retirarem os órgãos dele. Nós precisamos quebrar isso tudo".

Com mediação do jornalista Florestan Fernandes Jr., o Diálogo Brasil será reprisado no sábado (20) pela TV Nacional e pelo canal de TV a cabo NBR, a partir das 22h.