Belluzzo critica possibilidade de déficit zero sem redução de juros

13/08/2005 - 8h49

Elisângela Cordeiro
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Buscar uma meta de déficit nominal zero só seria aceitável se o governo adotasse também uma meta de juro real, ou seja, descontada a inflação. Como isso é muito difícil de adotar, essa proposta "é uma gozação". Esta é a opinião do economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Gonzaga Belluzzo, sobre a proposta do deputado federal Delfim Netto (PP-SP), de que o governo gaste somente o que arrecada. Para Belluzzo seriam as medidas juntas, déficit nominal zero e meta de juro real, que inibiriam aumentos do superávit primário. Quanto maior for a taxa de juros, mais o governo gasta com o pagamento de dívidas e com isso é obrigado a fazer uma economia maior, ou seja, aumentar seus superávits.

Belluzzo falou à imprensa em São Paulo no primeiro evento de comemoração de 50 anos de fundação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), na última quinta-feira (11). "Eu não estou dizendo que o déficit nominal zero é inviável", comentou. "Eu estou dizendo que ele seria aceitável desde que você tivesse também uma meta para a taxa de juros real. Porque vamos supor que você tenha uma mudança no cenário internacional e seja obrigado a aumentar a taxa de juro, no regime em que funciona a política monetária. Então você teria que aumentar o superávit primário para quanto? Para 8, 9% do PIB?"

Segundo Belluzzo, num cenário de turbulência no mercado financeiro internacional, o Banco Central teria de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, para aumentar o lucro dos investidores internacionais. Isso é feito habitualmente para evitar a fuga de capitais desses investidores. Estes, diante de qualquer turbulência, retiram suas aplicações em moedas fracas e as convertem em moeda forte. No caso do Brasil, significa retirar os investimentos em reais e convertê-los em dólares, processo que, quando ocorre em larga escala, deixa o governo sem recursos em caixa.