Falta de escolaridade explica distanciamento entre eleitores e candidatos, diz professora

11/08/2005 - 20h27

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Dos 121 milhões de eleitores brasileiros, pelo menos 70 milhões são analfabetos ou não terminaram o ensino fundamental, segundo estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A baixa escolaridade do eleitorado do país explica, segundo a professora Lucia Avelar, da Universidade de Brasília, o distanciamento estabelecido entre os candidatos e grande parte dos eleitores de todo o país.

Durante debate na Conferência Internacional sobre Desafios e Perspectivas do Fortalecimento das Instituições Políticas Brasileiras, encerrada hoje na Câmara dos Deputados, a professora ressaltou a necessidade de reduzir as "castas" existentes do Brasil, como forma de reduzir as desigualdades entre os eleitores. "Temos que distinguir entre opinião pública e eleitorado. A opinião pública tem acesso à informação, às propostas dos candidatos. Já o eleitorado é um conjunto desinformado e muda de direção ao perceber que um candidato se oferece disposto a melhorar a vida dos pobres", ressaltou a professora.

Lucia Avelar defendeu a construção de identidades coletivas para a sociedade brasileira, instrumento segundo ela capaz de inserir a população nas discussões políticas do país. Na opinião da professora, a reforma política tem como objetivo mudar a realidade estabelecida no eleitorado, segregado de acordo com o nível de escolaridade.

Para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Velloso, o eleitorado de baixa escolaridade é facilmente influenciado pelos meios de comunicação de massa e absorve as posições apresentadas na mídia sem críticas ou reflexões. "É uma parcela facilmente influenciável: absorve as informações pelo rádio ou TV e não tem acesso a jornais", ressaltou.

Carlos Velloso criticou, nesse sentido, os mecanismos de consulta popular como plebiscitos e referendos, uma vez que a população não é capaz de refletir sobre os questionamentos apresentados. "Temos que cercar esses mecanismos de certas cautelas. O mecanismo pode resultar em um voto contrário ao ideal. Na França, recentemente, os franceses rejeitaram a Constituição Européia por meio de um referendo. Eles ficaram com receio de que os pobres do Leste Europeu pudessem entrar na França. Essa rejeição não foi nobre, me perdoem os franceses", disse Velloso.

O presidente do TSE elogiou, no entanto, o referendo marcado para o dia 23 de outubro que vai questionar a posição da sociedade brasileira sobre a comercialização de armas de fogo e munição no país. "Eu tenho grande apreço pelo referendo. Já foram constituídas as frentes parlamentares que vão expor suas idéias durante 30 dias no horário eleitoral, entre 20 de setembro e 20 de outubro. O Tribunal, árbitro do referendo, vai fiscalizar isso", garantiu.