Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Nadando contra a corrente de investidores financeiros, empresários e a maioria dos governos do mundo, as organizações não-governamentais assistem, e participam, das reuniões da Organização Mundial de Comércio (OMC) esperando por seu fracasso. "Para nós, as negociações não estão no bom caminho, não apenas em Agricultura, mas também em acesso a mercados de bens industriais (NAMA), em que a abertura compromete empregos e até mesmo o projeto de desenvolvimento dos países", destaca o argentino Gonzalo Bérron, um dos coordenadores da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip).
A rede é uma das organizações não-governamentais (ONGs) que monitoram as negociações na OMC acompanham de perto a reunião do Conselho Geral, com uma agenda que inclui debates em diferentes grupos temáticos, contatos com a imprensa e festival de música. "Parece que está tudo parado de novo. Hoje (27), a reunião do Conselho durou apenas três horas e nos encontros preliminares já era possível perceber que não haveria avanços. Assistimos a isso tudo com um sorriso no rosto", admite Bérron. Esta reunião do Conselho Geral da OMC encerra os trabalhos do primeiro semestre. As negociações recomeçam em setembro.
Para outro integrante da Rebrip, o economista Adhemar Mineiro, o "fracasso em relação aos objetivos ambiciosos da Rodada Doha é inevitável". O economista destaca que a União Européia não consegue conciliar os interesses de seus membros, e um dos temas de maior impasse é justamente a abertura do mercado agrícola. "Nos Estados Unidos, há uma dificuldade enorme até para aprovar acordos pequenos como o Acordo de Livre Comércio da América Central (Cafta), enfatiza. Até mesmo o governo brasileiro, segundo mineiro, teria dificuldade para impor perdas a certos setores. "Com a atual crise política, é impensável entrar com mais este belemento na equação da política interna", avalia.
Os impasses se refletem na paralisação das negociações. "Os grupos de negociação ficam esperando o que está acontecendo nos outros grupos e trava tudo. A discussão só pode avançar, a partir daí, no Conselho Geral ou nas reuniões ministeriais e mini-ministeriais", esclarece. O economista lembra que, apesar dos impasses, os negociadores têm manifestado disposição em continuar negociando, o que sinaliza que a reunião de Genebra deve criar mecanismos formais e informais para dar impulso político às negociações – como novas reuniões mini-ministeriais (a exemplo da realizada há duas semanas em Dalian, na China). Nova reunião do Conselho Geral já está prevista para outubro. "Um novo fracasso explícito, em Hong Kong, colocaria em risco o sistema multilateral de regulação do comércio internacional", acredita Mineiro.
De hoje (27) a sexta-feira (29), representantes dos 148 países membros da OMC estão reunidos em Genebra. Em pauta, a agenda básica de negociação para a 6ª Reunião Ministerial da OMC, que será realizada ao final do ano, em Hong Kong.