Governador de Goiás confirma que avisou Lula sobre suposto esquema de mesadas

27/07/2005 - 17h51

Gabriela Guerreiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), confirmou hoje ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados que informou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a existência de um suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares. Segundo o governador, a conversa ocorreu no dia 05 de março de 2004, durante visita do presidente à fábrica da Perdigão, no município de Rio Verde (GO).

"Relatei ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas", disse Perillo. Em vez de convidá-lo a depor pessoalmente, o Conselho de Ética decidiu ouvir o governador por escrito. Marconi Perillo encaminhou esta manhã as respostas às perguntas formuladas pelos membros do próprio Conselho sobre o suposto esquema de pagamento de mesadas.

O nome de Marconi Perillo veio à tona quando a deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO), em depoimento ao Conselho, disse que o governador havia informado o presidente Lula sobre o "mensalão". Raquel teria relatado a Marconi Perillo ter recebido oferta do deputado Sandro Mabel (PL-GO) de R$ 1 milhão para ingressar no PL. Sandro Mabel também teria oferecido, segundo Raquel Teixeira, entre R$ 30 mil e R$ 50 mil mensais para que ela votasse em favor do governo na Câmara caso mudasse de partido.

O governador disse que foi informado por Raquel Teixeira entre o final de fevereiro e o início de março de 2004 sobre a proposta de Sandro Mabel. "A deputada me disse que havia ficado indignada e que teria repelido a proposta. Eu disse a ela que, se tivesse provas concretas, levaria o caso ao presidente da República, às autoridades judiciárias e ao conhecimento público. Fiquei extremamente preocupado e indignado com a tentativa de cooptação que me foi relatada", disse.

Marconi Perillo afirma ao conselho que só apresentou as denúncias ao presidente Lula, e não levou o caso à Justiça. "Como não tive mais informações a respeito, e certo de que havia levado o assunto a conhecimento da maior autoridade e mais alto magistrado do país, e como também não tinha provas testemunhais concretas, resolvi dar por encerrado o assunto", disse.

Perillo informou que a conversa com o presidente Lula ocorreu dentro do carro, no trajeto entre a fábrica da Perdigão e o Aeroporto de Rio Verde. Presenciaram a conversa, segundo Marconi Perillo, o motorista e o chefe da seguraça presidencial.

O governador também confirmou ao Conselho de Ética que, por intermédio do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), disse ao deputado Sandro Mabel que sabia da oferta feita à deputada Raquel Teixeira. "Quando soube que eu estava informado, o deputado Mabel telefonou-me desmentindo a versão da proposta de forma categórica. Depois, durante audiência na sede do governo estadual, voltou a desmentir e sugeriu uma conversa a três, incluindo a deputada Raquel. Achei que não era o caso", disse o governador.

Em depoimento ao Conselho de Ética, o deputado Sandro Mabel negou ter oferecido qualquer quantia financeira para a deputada Raquel Teixeira trocar de partido. Ele acusou a deputada de ser pré-candidata ao governo do estado de Goiás e, por isso, estar provocando um "jogo político" para minar a candidatura de Sandro Mabel ao governo. Nas respostas encaminhadas ao Conselho de Ética, Perillo disse discordar das afirmações de Sandro Mabel. "São desprovidas de qualquer sentido", encerrou.

As respostas de Marconi Perillo vão integrar a documentação no processo aberto no Conselho de Ética pelo Partido Liberal que pede a cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) por quebra de decoro parlamentar. Segundo o presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), o ministro Walfrido dos Mares Guia (Turismo) deverá também responder por escrito até a próxima semana as perguntas formuladas pelo Conselho de Ética.