Irene Lôbo e Érica Santana
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – O Fórum Nacional de Mulheres Negras, que reúne cerca de 40 organizações de 15 estados brasileiros, trouxe para a 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial mais de 150 propostas. Entre elas, a sugestão de capacitação de médicos para o atendimento à saúde da mulher negra, o pedido de advogados para atuarem na questão da discriminação racial e no abuso sexual de mulheres, o atendimento das reivindicações das mulheres quilombolas e a participação mais positiva das mulheres negras nos meios de comunicação.
A secretária-executiva do Fórum, Deise Benedito, diz que ao longo dos anos a discriminação conseqüente da escravidão fez com que a mulher negra sofresse mais preconceito do que a branca no mercado de trabalho.
"O Brasil é constituído por quase 60 milhões de mulheres. E nós mulheres negras somos a maioria nesse país. Dentro das condições de vida das mulheres negras, a gente sabe que pós-abolição nada foi garantido às mulheres negras", afirma. "Elas foram para o trabalho doméstico, tornaram-se lavadeiras, doceiras. Foram ainda para o trabalho informal nas ruas para poder manter a sua família."
Deise também defende que as mulheres negras tenham atendimento diferenciado no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ela, uma pesquisa feita no Rio de Janeiro mostrou que as mulheres negras esperam duas vezes mais do que as brancas na hora do parto. Na questão da moradia, ela disse que muitas negras são chefes de família desde o período da escravidão, mas como ganham bem menos que as mulheres brancas têm dificuldades de obter financiamentos para comprarem suas casas.
Ela também afirma que se as mulheres brancas possuem uma dívida histórica com as negras, e as negras também estão em dívida com as mulheres indígenas. "As mulheres indígenas, do ponto de vista da violência contra a mulher, foram aquelas que mais sofreram todas as violações e ultrajes, quando os colonizadores chegaram", pontua. A 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial prossegue até amanhã (2), no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília.