Ciganos reivindicam atenção especial em saúde e educação

01/07/2005 - 11h38

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A Associação de Preservação da Cultura Cigana calcula que no Brasil existam cerca de um milhão de ciganos. Desses, 300 mil seriam nômades. Vistos ainda com preconceito pela sociedade, os ciganos estão presentes na 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Até amanhã (2), eles pretendem reivindicar do governo adaptações nos sistemas de saúde e educação para garantir um atendimento adequado às comunidades.

Representante da Associação de Preservação da Cultura Cigana, Yaskara Guelpa conta que só agora os gestores públicos estão reconhecendo as características especiais do povo cigano e se dispondo a discutir políticas públicas. "Até pouco tempo, eles não concordavam em sequer nos receber nos gabinetes. Agora, estamos sendo ouvidos com mais freqüência", afirma Guelpa.

De acordo com ela, na área da saúde, os ciganos querem mais compreensão para o fato das mulheres só aceitarem atendimento ginecológico de médicas. A resistência dos postos e hospitais a essa exigência cultural estaria obrigando muitas mulheres a morrer por complicações no parto ou desenvolver doenças que poderiam ser prevenidas.

Na área de educação, o grande problema é a matrícula das crianças em idade escolar. Os grupos nômades têm o costume de mudar o acampamento de três em três meses. Com a demora no processo de matrícula, muitas crianças ficam sem estudar. Aquelas que conseguem a matrícula, muitas vezes são discriminadas em sala de aula pela falta de entendimento dos próprios professores sobre os hábitos ciganos, avalia Guelpa.

"Além da demora no atendimento, nas matrículas e a falta de compreensão, ainda enfrentamos nos hospitais e escolas públicas um preconceito incrível. Os próprios funcionários seguram a bolsa quando passamos por perto", denuncia a cigana Yaskara Guelpa. "As pessoas ainda acreditam em mitos como o de que cigano rouba criança. Isso não é verdade. Foi um mito construído ao longo do tempo com base na época em que muitas mulheres entregavam os filhos indesejados para as ciganas criarem."