Flávia Peixoto
Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
Belém - A criação do Observatório do Mercosul do Pará foi definida na terceira edição do seminário Encontro com o Mercosul, encerrada hoje no auditório da Agência de
Desenvolvimento da Amazônia (ADA). O debate, iniciado pela manhã, tornou evidente que o Pará tem muitas particularidades que precisam ser levadas em conta para que o estado consiga se integrar ao Mercosul.
De acordo com o gerente do Centro Internacional de Negócios do Pará, André Reis, os produtos da Amazônia não têm nomenclatura e classificação tributária no Mercosul, o que dificulta as negociações com o bloco: "Por causa, disso, não é possível fazer um levantamento estatístico da quantidade de cupuaçu exportado, por exemplo". Conforme dados do Centro, apenas 2% das exportações paraenses se dirigem ao Mercosul, enquanto a União Européia abocanha 36% e a área do Nafta leva 22%.
Não são somente peculiaridades econômicas, no entanto, que levam à necessidade de implantação do Observatório do Mercosul do Pará. O secretário-geral da Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, deputado federal Doutor Rosinha (PT-PR), destacou a importância da "integração humana" no bloco. E a representante da CUT (Central Única dos Trabalhadores) Silvia Portela, lembrou que já existe a Comissão Sócio-laboral do Mercosul. Duas vezes ao ano, a comissão se reúne para que Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai apresentem dados, por exemplo, sobre a erradicação do trabalho infantil. "Isto ainda é muito pouco e não abrange a diversidade social dos quatro países", ressalvou Silvia Portela.
Dentro do Mercosul, também já existem reuniões especializadas em agricultura familiar e em cooperativas. O que o Brasil ainda precisa implementar, conforme o representante do Ministério de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, Alberto Kleiman, é o ensino público do espanhol nas cidades de fronteira. "O domínio do idioma dá dinâmica às relações com o Mercosul", reforça o assessor Internacional da Sub-Chefia de Assuntos Federativos do Ministério.
O lado político do Mercosul também foi lembrado por Giorgio Romano, assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República. Com a perspectiva de criação do Parlamento da União Européia, Romano disse acreditar que "o Mercosul tem que superar o déficit político e inserir neste âmbito as questões sobre meio ambiente".