Em depoimento à CPI, Roberto Jefferson reafirma denúncias sobre pagamento de mesada a parlamentares

30/06/2005 - 20h18

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - No depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga suposto esquema de corrupção nos Correios, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) reafirmou que teria conversado entre seis e oito vezes com José Dirceu, sobre o suposto pagamento de mesada a deputados do PL e PP. Segundo o deputado petebista, teriam sido feito saques numa agência do Banco Rural em Brasília, que funciona no nono andar de um shopping da capital federal – o Brasília Shopping.

O parlamentar disse que "ali têm sido feito pagamentos depois que as malas pararam de chegar à Brasília". Segundo Jefferson, assessores de deputados eram incumbidos de ir até a agência do Banco Rural no Shopping para fazer os saques. Acrescentou, ainda, que é fácil fazer a identificação destas pessoas, pois teriam que assinar um documento para sacar o dinheiro. O deputado Ônix Lorenzoni (PFL-RS) apresentou requerimento solicitando a lista de pessoas que estiveram naquele andar desde janeiro de 2003.

Roberto Jefferson voltou a dizer que o empresário Marcos Valério de Souza, dono da agência de publicidade SMP&B, era quem trazia o dinheiro à Brasília para o pagamento das supostas mesadas. Os recursos, segundo ele, eram sacados em espécie do Banco Rural de Belo Horizonte e do Banco do Brasil. O publicitário já negou publicamente qualquer envolvimento com o suposto esquema de pagamento de mesadas.

Jefferson relatou a CPMI uma conversa que teria tido com o publicitário quando ele teria entregado R$ 4 milhões. A quantia seria parte de R$ 20 milhões que teriam sido, segundo Jefferson, acertados com a cúpula petista para financiar campanhas do PTB em 2004. De acordo com o parlamentar, nesta conversa, Valério teria sugerido que parte dos recursos do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) que estariam depositados num banco europeu, fossem transferidos para o Banco do Espírito Santo, em Portugal. O deputado petebista disse ter conversado sobre o assunto com o presidente do PT, José Genoino, que lhe teria dito para considerar o pedido.

No depoimento, Roberto Jefferson disse também que todos os cargos do PTB no governo foram negociados com o secretário geral do PT, Silvio Pereira, e o tesoureiro do partido, Delúbio Soares. Acertados os cargos, a decisão final seria tomada pelo ex-ministro José Dirceu, afirmou o parlamentar. Ele citou como exemplos a diretoria financeira do Departameno Nacional de Infra-Estruturas de Transportes (DNIT), diretoria da Eletronorte, a coordenação da Delegacia Regional do Trabalho do Rio de Janeiro e a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

Antes de começar a ser inquirido pela CPMI, Roberto Jefferson fez uma exposição de 38 minutos onde focou a necessidade de mudanças na legislação de financiamento de campanhas políticas. Ele diz ter feito um levantamento de todas as declarações de gastos com campanhas apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dos deputados e senadores da CPMI. "Não há eleição de deputado federal que custe menos que R$ 1 milhão. A média aqui (de gastos declarados ao TSE) é de R$ 100 mil", disse. No caso de uma eleição para senador, Jefferson calcula que não se gasta menos que R$ 2 milhões. Segundo ele, a média dos gastos apresentados ao TSE pelos senadores que compõem a CPMI é de R$ 250 mil.

O deputado colocou-se a disposição para uma acareação com o deputado federal, José Dirceu (PT-SP), e com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O requerimento para o pedido de acareação será apresentado pelo senador Jéferson Peres (PDT-AM).