Cemig vai propor nova forma de pagar US$ 750 milhões ao BNDES

30/06/2005 - 16h06

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio – A controladora da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) irá apresentar uma nova proposta para quitar a dívida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Cemig possui uma dívida com o banco de 750 milhões de dólares.

O diretor da Área de Crédito do BNDES, Roberto Timótheo da Costa, informou hoje no Clube de Engenharia, nesta capital, que está em contato com o venezuelano Andres Gluski, novo presidente para América Latina da multinacional norte-americana AES. O representante da AES para a América Latina retomou as negociações paralisadas com a demissão do antigo negociador, Joseph Brandt, embora esteja em curso ação impetrada pelo Banco na Justiça em abril do ano passado para cobrança do débito. Timótheo da Costa esclareceu que a ação em curso "não impede a retomada de negociações a qualquer instante e a retirada da esfera jurídica no momento em que se chegue ao acordo". Um acordo de acionistas pode ser a solução para a dívida da AES/Cemig, admitiu.

Um novo encontro entre Gluski e o BNDES deve ocorrer no início de agosto próximo. A chegada do sul-americano Andres Gluski na presidência recém-criada da AES para o continente latino abre perspectivas positivas para uma negociação, avaliou Timótheo da Costa. "Ele entende perfeitamente uma coisa que é fundamental: essa negociação só vai ser coroada de êxito quando nós tivermos 3 parceiros sentados à mesa. E esses parceiros são o BNDES, a AES e o governo de Minas Gerais".

Até agora, o governo mineiro tem mostrado uma posição solidária ao BNDES. O banco, contudo, não considera isso suficiente. Segundo manifestou Timótheo da Costa, a expectativa é que o governo de Minas se associe ao Banco numa negociação com a AES. "O BNDES sozinho tem poucos elementos para forçar essa negociação". Os americanos alegam que compraram algo que tinha um determinado valor porque gozava de certos poderes, que era um acordo de acionistas. Como esse acordo ruiu durante o governo Itamar Franco, a AES afirma que o ativo que comprou perdeu valor. A posição do Banco, entretanto, é técnica, pontuou Costa. Apesar de admitir que os americanos tiveram o prejuízo, "não é por isso que eles deixam de dever. O contrato continua do mesmo jeito", analisou.

Roberto Timótheo da Costa explicou que esse reconhecimento do prejuízo poderia ser conjunto do governo de Minas com o BNDES. Salientou, porém, que o banco, tal como ocorreu no caso da Eletropaulo, estará preocupado com o dia de sair. "O foco dos negócios do banco não é participar da empresa A, B ou C. Nosso foco é ser banco. Não podemos nunca esquecer isso". Informou que um acordo de acionista, nessa hora, é fundamental, tendo a participação também do governo do estado porque o BNDES quer que a empresa seja muitíssimo bem administrada, uma vez que ela já foi a melhor companhia administrada do setor de energia elétrica do Brasil. "Nós queremos que ela retorne a isso. No dia em que ela retornar a isso, nós vamos sair fora, os americanos vão nos pagar".

Timótheo adiantou que a AES não tem manifestado interesse em sair da Cemig. Garantiu que no momento a litigância do BNDES com eles é duríssima. "Eles estão gastando muitos esforços e dinheiro e o que mais incomoda a eles é que até hoje os dividendos que recebiam da Cemig estão contingenciados na justiça".

O BNDES hoje não possui nenhuma participação acionária na Cemig, mas essa alternativa não está descartada. Isso pode vir a suceder através de um acordo de acionistas. "A AES pagaria ao banco com as ações que eles têm e que seriam avaliadas pelo BNDES". O diretor frisou, todavia, que "para a gente entrar nisso, tem que ter a colaboração do estado de Minas Gerais. O BNDES vai querer um duro acordo de acionistas e o Estado vai assinar porque é o controlador".

Timótheo informou que o banco quer ter a certeza de que a empresa no futuro não vai ser administrada por padrões políticos. "Eu quero me assegurar disso". Adiantou ainda que amanhã, se o governo de Minas decidir vender sua parte na Cemig, o BNDES quer ter direito de tag-along, ou seja, ter o direito dado aos minoritários de vender as ações por um preço aproximado do preço das ações de controle ou por uma diferença pequena.

Timótheo afirmou que o acordo de acionistas vai obrigar que a gestão da empresa melhore para ganhar dinheiro. "E queremos assegurar a saída do banco. Senão, eu fico sócio da empresa toda vida. E o BNDES não tem essa finalidade", reiterou. A AES já apresentou várias alternativas ao BNDES mas nenhuma delas foi minimamente considerada satisfatória. Entre essas, o Diretor de Crédito salientou o pedido de perdão da dívida, ou abatimento do débito do saldo devedor, que sequer foi levado à apreciação da diretoria.