Christiane Peres
Da Agência Brasil
Brasília – Trocar a dívida dos grandes agricultores por terra para reforma agrária. Essa é a proposta da Via Campesina para o endividamento agrícola, que se estende desde 1995. De acordo com o diretor nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Romário Rossetto, é importante denunciar o "calote" dos ruralistas para que a sociedade entenda o que acontece no campo.
"Os grandes agricultores têm até julho para tentar renegociar mais uma vez a dívida. Desde 1995, eles renegociam uma dívida de aproximadamente R$ 34 bilhões e nunca pagaram nada. Quem arca com isso é a sociedade. Nós queremos que o governo troque as dívidas vencidas dos grandes por terras para a reforma agrária", afirmou Romário Rossetto, durante palestra na Câmara dos Deputados.
Num encontro marcado para esta tarde com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, os representantes dos movimentos sociais vão apresentar uma proposta que beneficie os pequenos e médios agricultores. O documento defende que o governo "direcione todos os instrumentos de política agrícola para a reforma agrária e para os pequenos e médios agricultores".
De acordo com o deputado estadual Frei Sérgio Güorgen (PT-RS), 260 mil famílias poderiam ser assentadas com o dinheiro da dívida que ainda não foi pago pelos grandes agricultores. "Essa dívida não se paga nunca porque o agronegócio não se mantém. O agronegócio nada mais é do que o velho latifúndio", disse. "Precisamos de um novo modelo de agricultura no país porque do jeito que está são os pequenos que produzem e os grandes que ganham."
O novo modelo de agricultura proposto pelo deputado pede mecanização leve, equilíbrio entre produção vegetal e animal, além de uma diversidade que respeite o meio ambiente.
Além da entrega de proposta ao ministro, deve ocorrer nesta semana o "tratoraço", que é uma mobilização da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília. A intenção dos produtores rurais é sensibilizar a sociedade sobre a crise vivida por alguns estados atingidos por problemas climáticos, baixos preços de comercialização, concorrência desleal, falta de crédito, endividamento e câmbio desfavorável.
De acordo com um dos organizadores, Claudienei Rigonato, o que se pede ao governo é um auxílio, com linhas de crédito e mais recursos para o setor. "Nós não estamos aqui pedindo perdão de dívida, calote, nada disso. É um auxílio neste momento de crise, é uma ajuda para que possam os produtores honrar os compromissos e continuar produzindo, tendo uma safra grande", explicou ele.
A dívida dos grandes agricultores, segundo Güorgen, chega a R$ 34 bilhões e é renegociada desde 1995. Em 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso, o prazo de pagamento foi prorrogado em 25 anos, mas a dívida ainda não começou a ser quitada. Segundo o deputado, desta vez, os produtores querem negociar o início do pagamento da dívida para 2026 – ano em deveriam estar quitando a dívida renegociada no governo FHC.