Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - O corregedor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Marcelo Gladson Pires, informou que deve ser publicada amanhã (28) no Diário Oficial da União a exoneração de Jones Menezes da chefia do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF no Amazonas. Jones foi detido na manhã de hoje pela Polícia Federal (PF) na chamada Operação Mercúrio, que já executou no estado 38 mandados de prisão temporária (18 emitidos para policiais rodoviários federais, um para policial militar e 19 para empresários e funcionários do setor de transporte de cargas) e 44 mandados de busca e apreensão (em residências, postos da PRF e empresas de transporte).
Jones Menezes é acusado de liderar uma quadrilha de policiais rodoviários que cobrava propina de empresas de transporte e motoristas do Amazonas e, em troca, deixava de autuá-las pelas irregularidades cometidas. Ele e mais 17 policiais rodoviários federais foram indiciados pelos crimes de formação de quadrilha, extorsão qualificada e corrupção passiva (pedir ou receber propina). Os civis detidos responderão por corrupção ativa (oferecer ou pagar propina).
"Precisamos também, a partir de agora, verificar nos documentos apreendidos se há indícios de roubo de cargas ou veículos. Até então, apreendemos no pátio das empresas 30 carretas com adulterações grosseiras, como modificações nas placas e no chassi. Acredito que esse número irá dobrar até o fim do dia. Além disso, sabemos que alguns dos empresários detidos estão envolvidos com contrabando de madeira e de carvão - e deverão também responder por esses crimes", afirmou o coordenador da operação, delegado Osmar Tavares Melo.
Segundo ele, os policiais rodoviários corruptos atuavam "no varejo e no atacado", ou seja, extorquiam pessoas físicas, motoristas autônomos, e pessoas jurídicas, representadas pelos donos e funcionários das transportadoras. "Os valores das propinas variavam muito. Podiam ir de R$ 20 a R$ 1.500, de acordo com a multa que se deixava de aplicar. Era uma organização com hierarquia bem definida, com divisão de tarefas, mas sem tesoureiro fixo. Tudo o que eles arrendavam costumavam dividir ali, na hora. Então, é difícil estimar quanto lucraram nestes três anos", explicou o delegado.
Osmar Tavares de Melo informou que cerca de 20 motoristas, corruptores "do varejo", identificados pelas conversas telefônicas gravadas com autorização da Justiça, deverão ser intimados a prestar depoimento – e podem, também, ser indiciados por corrupção ativa. As investigações da Operação Mercúrio começaram em 2002, por meio de uma denúncia anônima recebida pelo Ministério Público Federal (MPF).
Os 36 detidos que já se encontram na sede da Superintendência da PF em Manaus começaram a prestar depoimento a quatro delegados federais. Dois dos 38 mandados de prisão foram executados em municípios do interior (Parintins e Coari), e os indiciados ainda não chegaram à capital. O delegado Melo espera que, até o fim da tarde de amanhã (28), a Polícia termine de ouvir todos os acusados. Eles irão pernoitar em cadeias públicas da cidade. A prisão temporária é válida por cinco dias e pode ser prorrogada por igual período.
"Isso é um absurdo. Prisão temporária só é cabível quando o cidadão não tem residência fixa no distrito da culpa, quando se nega a fornecer a identificação à polícia ou quando é vadio. Não é o caso do meu cliente", protestou o advogado Elias Brasil, representando o acusado João Luiz Oliva Pinto, dono da Transportadora Oliva Pinto. Ele afirmou que entrará com pedido de habeas corpus (instrumento jurídico usado para pedir a libertação de pessoas presas indevidamente).