Christiane Peres
Da Agência Brasil
Brasília – O aumento da violência na capital haitiana, Porto Príncipe, pode prejudicar o processo eleitoral marcado para outubro, novembro e dezembro deste ano. Essa é a avaliação do comandante das tropas de paz das Nações Unidas (Minustah), o general brasileiro Augusto Heleno Pereira. "Estamos vivendo uma situação difícil com uma nova crise em termos de aumento de violência, mais concentrada em Porto Príncipe. Começam a surgir especulações sobre a possibilidade dessa violência continuar e acabar prejudicando o decorrer das eleições, prejudicando o processo eleitoral. Mas ainda estamos longe das eleições e nada do que aconteceu até agora pode ser considerado como algo que possa impedir seu acontecimento."
De acordo com o general, o restante do país está "absolutamente calmo". Heleno explica que o aumento da violência na capital coincidiu com a época de rotação dos contingentes, que ocorre a cada seis meses. "O soldado que vai embora já conhecia perfeitamente a cidade, tinha uma maneira de operar e tinha intimidade com locais e deslocamentos. Os novos contingentes têm que começar tudo de novo. Então, é natural que haja uma queda no rendimento desses contingentes, que é recuperado rapidamente. Mas que coincidiu com esta época onde os seqüestros aqui atingiram um nível bem elevado", afirma. Hoje, segundo ele, a transição está terminando. Os contingentes da Jordânia, Brasil e Sri-Lanka já estão completos, mas ainda falta a mudança das tropas do Nepal e do Uruguai.
Para conter os seqüestros no país, Heleno enfatiza que as tropas precisam do apoio da Polícia Nacional do Haiti (PNH), já que este é um trabalho policial e não de tropas militares. "Estamos aqui para apoiar a PNH. Para que tenhamos êxito em ações tipicamente policiais, dependemos da atuação dessa polícia. Um exemplo típico são os pontos de controle, onde a gente faz revistas de veículos etc. Esse trabalho depende fundamentalmente da polícia do Haiti. Sobretudo, porque o contato com a população por parte das tropas é difícil. Imagine um soldado que fala árabe ou português e que tem que dialogar com um ocupante de um veículo sobre o que ele está transportando. São diálogos impossíveis para tropas que não falam a língua do povo. Nós acionamos vários postos de controle, mas sabemos que a eficiência desses postos vai ficar muito prejudicada se a polícia não estiver conosco."
O Haiti vive períodos de instabilidade política desde a independência, em 1804. Ano passado, quando o então presidente Jean-Bertrand Aristide deixou o país e asilou-se na África do Sul, a ONU foi convocada para apoiar a transição política e manter a segurança interna. Para isso, foi formada a Minustah que assumiu em 01 de junho de 2004.