Brasília, 17/6/2005 (Agência Brasil - ABr) - Durante os 10 dias entre a entrevista em que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) falou pela primeira vez publicamente no suposto esquema de "mensalão" parlamentar e a queda do ministro José Dirceu ontem (16), o chefe da Casa Civil foi um dos alvos mais freqüentes de suas acusações.
À Folha de S. Paulo, no dia 06 de junho, o presidente do PTB citou o ministro-chefe entre os membros da cúpula do governo que ele teria informado sobre pagamento de mesada, de até R$ 30 mil, pelo PT a parlamentares do PL e do PP. O pagamento seria organizado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Nessa entrevista, Jefferson relatou ter ido ao ministro no início de 2004 e contado que deputados do PTB o pressionavam para receber o assim chamado "mensalão". De acordo com ele, Dirceu deu um soco na mesa e disse: "O Delúbio está errado. Isso não pode acontecer. Eu falei para não fazer". Jefferson disse também que o pagamento só cessou após ele falar diretamente com o presidente Lula, no início deste ano.
Na segunda entrevista ao jornal, no domingo (12), o publicitário Marcos Valério aparecia como uma das peças principais do alegado esquema. Roberto Jefferson afirmou que o deputado José Janene (PP-PR) era um dos "operadores" da mesada e garantiu já haver visto o ministro "muito irritado com ele porque ele se apresentava como ‘operador do Zé Dirceu’". Dias depois, Janene, líder do PP na Câmara, entraria com um pedido de abertura de processo contra o acusador no Supremo Tribunal de Justiça por calúnia, injúria e difamação.
Em seu depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados na terça-feira (14), Roberto Jefferson afirmou ter recebido R$ 4 milhões "como cidadão" para a campanha eleitoral de 2004 por intermédio do PT. O presidente do partido, José Genoino, negou a existência do repasse e afirmou que o partido iria "se defender à altura", fosse no Congresso ou na Justiça.
Na mesma sessão, o deputado afirmou ter pedido ajuda a José Dirceu, e obtido resposta positiva, para emplacar sua versão sobre o caso na mídia. Jefferson também defendeu, diante dos integrantes do conselho, que Dirceu "deveria sair logo do governo, antes de transformar o presidente Lula em réu". Não apresentou provas, mas nomeou parlamentares do PP e do PL que "conhecem e distribuem" mesada. Ressaltou que as bancadas do PT e do PV não a recebem.
Nessa terça-feira, a assessoria de imprensa da Casa Civil chegou a emitir nota oficial desmentindo boatos de que José Dirceu teria entregado o cargo.
Roberto Jefferson também se queixou de que a Agência Brasileira de Inteligência passou a ficar "nos calcanhares" do PTB. O ex-agente do Serviço Nacional de Informações José Fortuna Neves afirmou ontem (16) em depoimento à Polícia Federal (PF) que a agência investigava os Correios a pedido da Casa Civil e poderia estar envolvida na gravação da fita que deu origem às denúncias de corrupção na estatal. O ex-agente do SNI começou a ser investigado pela PF depois de ter seu nome citado por Jefferson.
Agora, José Dirceu deve reocupar o mandato de deputado federal por São Paulo, no lugar do suplente Ricardo Zarattini. Disse não se considerar fora do governo e ver em seu afastamento da Casa Civil a oportunidade de esclarecer, no Congresso, as "denúncias infundadas" feitas nas últimas semanas contra ele, seu partido e o governo.