Comandante da força de paz no Haiti faz balanço positivo de um ano de ação militar

17/06/2005 - 12h01

Christiane Peres
Da Agência Brasil

Brasília – O comandante da força de paz das Nações Unidas no Haiti (Minustah), general Augusto Heleno Pereira, faz um balanço positivo da atuação das tropas no país ao completar um ano de missão. Segundo ele, foi um ano de muito trabalho e superação de dificuldades.

"Passamos seis meses com metade do efetivo, que só chegou próximo do previsto no final de dezembro. O Haiti vivia uma situação bastante instável quando chegamos, em junho do ano passado, mas fomos administrando esses problemas. Tivemos algumas crises, que também foram gerenciadas com muito trabalho e esforço das tropas. No geral, temos muito mais fatos positivos do que fatos negativos nesse período", afirmou o general.

Entre os problemas, Heleno destacou o apoio à Polícia Nacional do Haiti (PNH), que, para ele, é uma polícia desestruturada, mal equipada, mal treinada e com efetivo bastante reduzido: 1,5 mil homens para cuidar de uma população de 2,5 milhões de habitantes. "O efetivo que nós temos na rua diariamente em Porto Príncipe, incluindo as forças haitianas, não chega a dois mil homens. Brasília, que tem população semelhante, tem mais de 20 mil policiais. Então, existe um excesso de trabalho para poucos policiais", disse ele.

Além da falta de policiais, o general lembrou que existe um problema de "neurose" da população haitiana em relação à segurança. "Tenho a impressão que cada um dos habitantes de Porto Príncipe gostaria de ter um soldado com capacete azul andando ao lado dele na rua. E isso nós não temos, de maneira alguma, condições de fazer. Mas estamos trabalhando para que este sentimento de insegurança possa desaparecer da cabeça dos haitianos."

O general disse que, desde que chegou ao Haiti, estuda formas estratégicas de combater a violência. "Só vamos utilizar as tropas, colocar a força nos locais onde forem necessários. A segurança é extremamente necessária, mas ela tem de ser acompanhada dos projetos humanitários, sociais e econômicos para que a população se sinta em outro ambiente e que tenha esperança no futuro. Se nós não fizermos isso, vamos manter uma segurança aparente pela utilização da força, mas não estaremos construindo nada para o futuro e quando sairmos vamos ter criado simplesmente novos bolsões de violência que vão explodir mais tarde", ressaltou.

O comandante da Minustah lembrou que, muitas vezes, é criticado pela opção tomada, mas ressalta que não vai ceder às pressões. Segundo ele, as ações ofensivas têm de ser muito bem planejadas, têm que ter objetivos definidos e não podem ter como conseqüência vítimas inocentes. "Aqui, as gangues agem dentro das favelas e usam como escudo crianças e mulheres. Por isso, muitas vezes uma ação ofensiva não chega a ser desencadeada porque os efeitos colaterais serão extremamente desastrosos", disse.

"Não posso justificar ações cegas e indiscriminadas com um monte de vítimas inocentes que não tinham relação com a missão. É isso que eu me recuso a fazer. Estamos preparados para utilizar a força, temos todas as condições para utilizar, mas só vou fazer uso dela quando tiver certeza que estou utilizando com endereço certo. Contra aqueles que são tão ou mais violentos do que nós, e, por isso, merecem ser reprimidos por violência", acrescentou.

No início deste mês, o Conselho de Segurança da ONU prorrogou por mais 24 dias a permanência da Minustah no Haiti. O general Heleno disse que não faz idéia de quanto tempo mais a missão vai durar e ressaltou que a saída das tropas do país depende da decisão das Nações Unidas e dos demais governos que integram a força de paz.