Brasília, 25/5/2005 (Agência Brasil - ABr) - Mesmo após a independência, a língua oficial na maioria dos países africanos continua sendo a dos colonizadores. A constatação é de Lino Moniz, mestre em Tecnologia da Educação pela Universidade Brasília, durante palestra nesta quarta-feira em comemoração ao Dia da África.
"O maior alvo de uma colonização é o idioma", afirmou, na palestra sobre Lusofonia, Anglofonia e Francofonia: Uma estratégia de desintegração e recolonização do continente africano, que marcou o início do debate na Universidade de Brasília, do qual participou também o professor Wolfgang Döpcke, do Departamento de História.
Lino Moniz lembrou que o continente africano é o mais afetado pela colonização: "A Nigéria tem 670 línguas; Camarões, 228; e Congo, 210". E ressaltou que esse também é um problema em países como os Estados Unidos, que hoje mantêm cerca de cem línguas indígenas. No Brasil, ele calculou que 85% das línguas indígenas tenham desaparecido com a colonização. "Sobraram apenas 180", informou.
E citou dado da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), indicando que a cada 15 dias uma língua desaparece no planeta. Com isso, as cerca de cinco mil línguas catalogadas no mundo podem desaparecer em dois séculos.
Este cenário, acrescentou Moniz, seria perfeito para a internacionalização da língua inglesa. "No novo cenário internacional, os grandes pólos culturais e lingüísticos vêm ampliando seus espaços, procurando novas áreas de influência. Os ingleses e os norte-americanos trabalham juntos em defesa da difusão da língua inglesa", explicou.
A formação de parcerias bilaterais, com a qual concorda o professor Döpcke, foi sugerida por Moniz como alternativa para essa dominação. Para o Brasil, segundo Wolfgang Döpcke, a parceria ideal nessa situação seria com o continente africano. "A aproximação entre África e Brasil pode combater a expansão desenfreada do neoliberalismo, predatório para ambos. Porém é preciso construir laços permanentes", destacou.
Döpcke ressaltou ainda que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe o continente africano para a política externa nacional. "Nos últimos 40 anos, a África foi lembrada e esquecida periodicamente na política externa brasileira. Agora, está de volta ao centro dessa política, após o histórico de montanha russa", acrescentou.
O dia 25 de maio marca o Dia da África desde 1983, quando 32 chefes de Estado africanos criaram a Organização da Unidade Africana, hoje conhecida como União Africana.