"Juiz míope", OMC ainda é fórum mais amplo de negociação comercial

25/05/2005 - 13h02

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Um "juiz míope", porém necessário. Essa é a Organização Mundial do Comércio (OMC), segundo Marcos Jank, presidente do Instituto de estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). "Existe um conjunto de regras que é relativamente frágil, o juiz muitas vezes não vê todas as trapaças que são feitas pelos jogadores. Mas imagine um jogo de futebol Brasil x Argentina sem juiz e sem regras. Seria muito pior", compara.

Segundo ele, isso faz com que o sistema multilateral de comércio seja, ainda, a melhor instância para que os países em desenvolvimento defendam seus interesses. Por outro lado, países avançados demonstram dar preferência, neste momento, a acordos bilaterais ou biregionais. "É impossível imaginarmos que, numa negociação direta com os Estados Unidos, por exemplo, eles vão eliminar os subsídios agrícolas completamente", diz.

Jank acredita que a manutenção da OMC, com mais e melhores regras, é do interesse dos países pequenos. "Países ricos, pela sua força e pelo seu poder, conseguem estabelecer sua vontade com facilidade. Países pobres dependem muito mais do manual de regras e do juiz", afirma.

Jank acredita que a prioridade deve ser a negociação multilateral, depois a regional e, por fim, a bilateral. "O Brasil é um país que depende do avanço do multilateralismo, pois, infelizmente, temos uma pauta de exportações extremamente concentrada em produtos problemáticos, com elevados subsídios e proteções, como açúcar, suco de laranja, carnes, óleo de soja, siderurgia, têxteis e calçados", justifica.

"Há temas em que os acordos regionais podem ir mais fundo do que a OMC. Mas há assuntos que são tipicamente multilaterais. Aí entram todas as regras de agricultura, todas as regras de dumping e subsídios e as regras de serviços", afirma a economista Vera Thorstensen. Ela é consultora da Missão do Brasil junto à OMC e presidente do Comitê sobre Regras de Origem da OMC, acredita que certas questões devem ser acordadas por todos os países.

Para o economista Mário Ferreira Presser, coordenador do Curso de Diplomacia Econômica da Unicamp, a negociação multilateral ainda é o melhor caminho nas relações com os países avançados. Ele defende, no entanto, o estratégico regionalismo Sul-Sul. "Multilateralismo sim, mas temperado, agora, com acordos comerciais e coordenação política entre os países do Sul", defende.