Adaptação é problema de dekasseguis que chegam e que saem do Japão

25/05/2005 - 9h13

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Os primeiros brasileiros descendentes que começaram a ir para o Japão a partir da década de 1980, os dekasseguis, enfrentaram uma série de dificuldades de adaptação. Em determinado momento de sua vida por lá, experimentaram a situação crucial de escolher se queriam voltar ao Brasil ou permanecer naquele país, uma decisão difícil que poderia levar a outro problema: a readaptação no país de origem.

Sandra Ayumi Iamamura, brasileira de nascimento que morou nove anos no Japão e Keiko Bailone, uma jornalista que viveu a experiência de mudar para o Japão levada por uma empreiteira, contam que a saudade do país e da família são os principais motivos para que os dekasseguis pensem em voltar.

"Estava há muito tempo longe da família. Chega uma hora que você tem que decidir. Ou fica de vez lá ou volta. No meu caso, preferi voltar", diz Sandra. "A saudade era tanta que eu alugava fitas do Sílvio Santos e chorava copiosamente. Ia às lojas de produtos brasileiros e comprava pasta de dente Colgate para sentir o cheiro do Brasil", conta Keiko.

Se sair da terra natal para morar em um país totalmente diferente é difícil, o retorno pode ser um choque. Sandra lembra que levou um ano para se readaptar totalmente ao estilo de vida brasileiro. Ela conta que a rotina do país a assustou no início, principalmente em relação ao choque econômico e cultural que sentiu. "Para você se readaptar, mesmo dentro da família, é muito complicado, porque a cabeça da gente muda muito lá, em tudo. Você vê coisas aqui (no Brasil), que não vê muito lá, miséria, carros velhos, a gente fica meio abalado no começo, estranha bastante. Outro exemplo é o atendimento das lojas, que lá é educado, cortês, e aqui nem sempre".

Quanto aos antigos amigos, Sandra sentiu o afastamento natural após sua temporada de nove anos no Japão. "Meu círculo de amizades realmente acabou se fechando em ex-dekasseguis também, em amigos que fiz lá e que continuam aqui. Convivo com esses amigos até hoje, enquanto os outros que ficaram aqui no Brasil foram vivendo a sua vida, ficamos meio afastados", conta.

Voltar a viver no Japão não está nos planos das duas mulheres. Elas garantem que só viajariam ao país, "para passear".