Mais de 500 famílias ocupam barragens em Goiás por não terem recebido indenização

23/05/2005 - 19h02

Brasília, 23/5/2005 (Agência Brasil - ABr) - Mais de 500 famílias atingidas pelas barragens de Cana Brava e Serra da Mesa, em Minaçu (GO), ocupam as duas usinas em protesto por não terem recebido indenização após a saída das áreas. O pagamento deveria ter sido feito pela Tractebel Energia há três anos, mas só 25% das 986 famílias que abandonaram suas casas foram ressarcidas.

A Tractebel é a maior empresa privada do setor elétrico brasileiro, subsidiária da Suez-Tractebel, com sede em Bruxelas, Bélgica. Com a cheia dos lagos, muitas comunidades ficaram isoladas e perderam o acesso a escola e a saúde. E as famílias dos pescadores da região, prejudicados pelo alagamento, também não foram indenizadas.

Essa é a terceira vez que as famílias ocupam as usinas. De acordo com o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Agenor da Silva Costa, as indenizações pagas não passaram de R$ 5 mil e algumas famílias receberam de R$ 39 a R$ 500. "Uma parte foi mal indenizada. Cerca de 25% foram compensadas, mas não indenizadas: elas receberam uma parte em dinheiro ou foram para um assentamento sem estrutura, e 75% das famílias não receberam qualquer tipo de compensação. Agora nós estamos acampados com essas famílias para receber a indenização e a empresa não quer reconhecê-las como atingidas", informou.

O responsável pela Assessoria de Prevenção de Riscos de Furnas, Geraldo Jésus Ismanio, informou que os advogados da empresa entrarão com ação de reintegração de posse. E disse acreditar que não há razão para a ocupação: "Não achei documento em que eles pedissem a Furnas algum tipo de negociação. A usina já funciona há muito tempo. A empresa já fez todas as desapropriações e já pagou as indenizações".

O representante de Furnas acrescentou que só haverá diálogo se os manifestantes deixarem o local: "A usina tem que voltar à vida normal, depois nós conversamos". De acordo com Ismanio, a manutenção das usinas está prejudicada, porque os manifestantes bloquearam a entrada dos trabalhadores e só permitem troca de turno entre os operadores.

Nas duas ocupações anteriores, em 2001 e 2003, a empresa apresentou propostas de negociação que jamais foram cumpridas. O representante do MAB informou ainda que as famílias só deixarão as usinas quando houver uma negociação de fato: "Nós não vamos aceitar apenas a proposta de negociar. Nós vamos aceitar negociação. Negociou, nós retiramos as famílias. Não negociou, nós permaneceremos acampados pelo tempo necessário".

Na semana passada, ainda de acordo com o MAB, a Tractebel anunciou a captação de R$ 200 milhões no mercado financeiro para pagar "antecipadamente" o empréstimo contraído com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) em dezembro de 2000, para construir a barragem de Cana Brava. Denúncias da sociedade civil levaram o banco a abrir processo para avaliar a construção dessa usina e para analisar o cumprimento da responsabilidade social da empresa. Foi constatado que de fato muitas famílias não haviam sido indenizadas.