Spensy Pimentel
Enviado especial
Toyohashi (Japão) – A comunidade de brasileiros no Japão desenvolveu nos últimos anos uma alternativa à integração das crianças no sistema de ensino local. Desde os anos 90, operam no país as chamadas "escolas brasileiras". Segundo dados do Ministério da Educação, já existiam 60 desses estabelecimentos em 2003.
A partir de 1999, uma resolução do Conselho Nacional de Educação estabeleceu a possibilidade de que um parecer desse órgão servir como aval para os estudos feitos nessas escolas terem validade no Brasil. Enquanto isso, segundo as leis japonesas, as crianças estrangeiras residentes no país não estão obrigadas a freqüentar o ensino básico.
"Os alunos procedentes de estabelecimentos de ensino sediados no Japão, cujo ensino por eles ministrado for considerado válido pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação em território brasileiro, terão seus certificados de conclusão do ensino fundamental e do ensino médio aceitos no Brasil para todos os fins e direitos, em total equivalência com os alunos das escolas nacionais em funcionamento no Brasil", afirma resolução do CNE datada de 2003.
As escolas brasileiras não são reconhecidas como estabelecimentos educacionais pelo governo japonês. Têm apenas registro comercial e, por isso, não estão submetidas à fiscalização ou a uma supervisão de seus projetos pedagógicos. As mensalidades cobradas por algumas escolas chegam a mais de US$ 500 por mês.
Para especialistas e autoridades, a opção dos pais pelas escolas pode ser questionada, uma vez que se observa a tendência de uma permanência dos imigrantes cada vez mais longa no Japão. Enquanto, nos anos 90, a tendência era de o brasileiro passar no Japão períodos de até três anos, hoje, há brasileiros casando-se com japoneses e até mesmo adquirindo casa própria ali.
"Com esse aumento do tempo em que os brasileiros estão ficando no Japão, queremos que eles aprendam bem o japonês e se adaptem à vida escolar aqui", afirma Yoshio Ogai, da Comissão de Educação da Prefeitura de Hamamatsu. Para ele, essa adaptação é necessária para que, no futuro, as novas gerações de brasileiros conquistem melhores condições de trabalho no país. Por isso, Ogai pede que o governo brasileiro colabore com a conscientização dos imigrantes nesse sentido.
Para aprimorar seus projetos pedagógicos, as escolas brasileiras no Japão têm se organizado como extensão de grandes redes de ensino no Brasil. Uma dessas redes já mantém até mesmo um coordenador pedagógico em Toyota, no Japão, apenas para supervisionar o trabalho das "escolas brasileiras".
Para o padre Evaristo Higa, que atua junto à comunidade brasileira em Hamamatsu, várias das "escolas brasileiras" estão organizadas apenas com fins comerciais. "Algumas escolas são fraquíssimas, não têm nenhuma estrutura, falta atualização aos professores", reclama. O padre lembra que essas escolas contribuem para que muitos brasileiros vivam numa situação de "gueto": "Tem brasileiro que vive aqui há dez anos e nunca aprendeu japonês".