Criminalidade entre brasileiros é relacionada a problemas familiares e educacionais dos jovens

23/05/2005 - 8h00

Spensy Pimentel
Enviado especial

Tóquio (Japão) – O registro de criminalidade entre os brasileiros residentes no Japão é relacionado por autoridades e estudiosos aos problemas familiares e escolares enfrentados pela juventude dekassegui.

Segundo a psicóloga Kyoko Nakagawa, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), muitas vezes, esses jovens "buscam em atividades ilícitas alguma escapatória numa tentativa de readquirir um bem estar emocional, não sendo raro encontrar adolescentes cometendo infrações e fazendo uso de drogas". "A situação se agrava se a criança não tem no que se apegar enquanto um objetivo de vida, longe das escolas e substituindo o ser pelo ter, buscando adquirir bens materiais", escreve ela, em seu texto "Crianças e adolescentes envolvidos no movimento dekassegui". O documento é resultado de pesquisa de campo empreendida no Japão em 2003.

O padre Evaristo Higa, que reside em Hamamatsu e participará do encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Nagoya, no próximo sábado, conta que é freqüentemente acionado por familiares de brasileiros presos que lhe pedem ajuda. Entre os crimes que ele observa serem mais comumente praticados estão os furtos no comércio e em rádios de automóveis, ilegalidades no trânsito, como dirigir sem carteira, além de delitos relacionados ao tráfico e consumo de drogas.

Ele observa que o mais comum é esses crimes serem praticados por jovens de 17 a 25 anos. "Eles roubam por farra, desafio, do tipo 'duvido que você faça isso'", conta. "É curioso que, no Brasil, os descendentes de japoneses raramente se envolvem com essas coisas. Você nunca vê coisas assim no jornal. Aqui, acho que o problema são a distância em relação aos pais que trabalham demais e as más companhias."

O padre explica que o sistema presidiário japonês é rigoroso e que, após cumprir a pena, o estrangeiro é deportado e tem que arcar ele mesmo com a passagem de volta a seu país de origem.

Shinji Sato, diretor da divisão de Relações Internacionais da Prefeitura de Toyohashi, diz que os órgãos públicos japoneses estão procurando apoiar atividades esportivas, culturais e educacionais para os jovens. "Um dos objetivos é exatamente tentar evitar que esses jovens se envolvam com a criminalidade", diz ele.