Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - O anúncio da pavimentação da BR-163 (Cuiabá-Santarém) pode ter acirrado o conflito entre grileiros e a população local, em especial no município de Santarém (Pará), onde na última sexta-feira (20) foi encontrado o corpo do agricultor Raimundo Moraes Pinheiro, ex-presidente da Associação de Moradores do Moju, assassinado com um tiro no peito.
A advogada da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará, Rosilene do Socorro Mota, diz que o local onde o corpo foi encontrado (na altura do km 108 da BR-163) é de dificíl acesso e comunicação e, portanto, a entidade ainda não tem informações sobre o crime. "Alguns agentes pastorais devem retornar hoje no fim do dia, de lá, trazendo notícias", informou a advogada.
"A própria polícia falou em assassinato por encomenda. Aquela região sofre muito pressão do avanço da soja, principalmente em virtude da notícia da pavimentação da rodovia. É cedo para afirmar, mas o crime pode estar relacionado a esse conflito constante entre os grileiros e as populações tradicionais", disse.
A versão preliminar do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável para Área de Influência da Rodovia BR-163 alerta para o risco do avanço descontrolado da soja na região de Santarém. A área que sofrerá os impactos da pavimentação da rodovia tem 1,23 milhões de quilômetros quadrados e foi dividida em três mesorregiões.
Santarém pertence à mesorregião Norte, a que possui ocupação mais antiga - com cidades originárias do período colonial e uma colonização iniciada na década de 70, no setor da BR-230 (rodovia Transamazônica).
Segundo dados do Plano, a economia da mesorregião está baseada na produção agropecuária familiar, embora o cultivo da soja, concentrado em Santarém, tenha crescido: saltou de 350 hectares, em 2001-2002, para 6 mil hectares, em 2002-2003, e 14 mil hectares, em 2003-2004, com projeções de 120 mil hectares em 2010, se o padrão atual não mudar.
O chamado Plano BR-163 Sustentável foi elaborado ao longo de dez meses por um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) composto por 17 ministérios e três secretarias, sob coordenação da Casa Civil da Presidência da República. Sua versão preliminar foi debatida pela sociedade civil
organizada durante abril, em oito consultas públicas que ocorreram em cidades da região. A versão final do Plano deve ser lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em junho.