Spensy Pimentel
Enviado especial
Hamamatsu – Os brasileiros já formam hoje a terceira maior comunidade de estrangeiros no Japão. São 274,7 mil, apenas abaixo dos coreanos (613.791) e chineses (462.396). Baseando-se nos dados do último censo japonês, o sociólogo Ângelo Ishi, professor da Universidade de Musashi, publicou no início deste ano um raio-x dos 274,7 mil que formavam no fim de 2003 a comunidade dekassegui, na revista Alternativa. Essa é uma das 12 revistas que os brasileiros mantêm hoje, além de dois jornais semanais, uma rede de televisão e diversas rádios transmitidas pela Internet.
Enquanto, no início dos anos 90, chegaram a ir para o Japão mais de 60 mil pessoas em um único ano, hoje a comunidade continua em expansão, mas a taxas bem mais baixas. Entre 2002 e 2003, o crescimento foi de 2,4% na comunidade, 6.388 pessoas. Segundo a psicóloga Kyoko Nakagawa, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), as estimativas são de que haja 3 mil nascimentos por ano entre os brasileiros.
As crianças até 4 anos somam 16.771 entre os dekasseguis (ou burajirujin, como são conhecidos os brasileiros que vivem no país). Enquanto, no início do movimento migratório, os homens eram maioria absoluta, hoje há 123.564 mulheres entre os 274,7 mil brasileiros. Mais da metade deste número concentram-se na faixa entre 20 e 39 anos, mas já há quase 7 mil acima dos 60 anos.
Os burajirujin estão espalhados pelas 47 províncias japonesas. Em algumas regiões do Japão, como a província de Shizuoka, já são mais de 50% de todos os estrangeiros residentes. E, segundo Ishi, "embora os estrangeiros ainda representem menos de 2% da população no Japão, algumas cidades estão se transformando em verdadeiros laboratórios para os japoneses se acostumarem a conviver com gente de outras nacionalidades, principalmente brasileiros". Ele conta, em seu texto, que há cidades como Oizumi, onde já há 15 estrangeiros para cada 100 habitantes.
Só em 2003, 10.568 brasileiros adquiriram visto permanente, um total 16 vezes maior do que se registrava cinco anos antes, em 1998 e um volume que corresponde a mais de um terço dos vistos desse tipo (Teijuusha).
Em seu texto, Ishi também elege alguns marcos da história da migração brasileira para o Japão, cujo ponto inicial Ishi considera a mudança nas leis japonesas que autorizou a vinda de nisseis e sanseis, em junho de 1990. Foi nesse ano que surgiu o primeiro restaurante administrado por brasileiros, o Brasil.
Um ano depois, surgiam os primeiros jornais em português e desfiles de samba em diversas cidades, além dos primeiros sinais de enfrentamento e preconceito a partir dos japoneses, como o relato da proibição da entrada de brasileiros em lojas e a primeira condenação de um brasileiro por assassinato (Terumi Maeda Jr., condenado a 13 anos de prisão pela morte de uma garçonete japonesa).
O primeiro shopping center brasileiro, o Brazilian Plaza, foi inaugurado em Oizumi, em 1996. O primeiro CD de brasileiros, o "Kaisha de Música", é lançado em 1997, em Gunma. Em 1999, pela primeira vez, uma brasileira ganha uma ação por discriminação racial. Ana Bortz tinha sido expulsa de uma joalheria em Hamamatsu por ser estrangeira.
Para o sociólogo Ishi, a situação dos brasileiros é hoje bem melhor do que em 1990. "Os problemas atuais parecem pequenos se comparados aos vividos pelos pioneiros", escreve ele. Entre as dificuldades superadas, Ishi considera, por exemplo, a retenção de passaportes por empreiteiras, os alojamentos insalubres, a dificuldade de comunicação e de adaptação à comida japonesa.
Entre as mudanças, Ishi lembra que hoje há diversos brasileiros comprando imóveis para permanecer em solo japonês e adquirindo com facilidade itens da culinária brasileira produzidos no próprio Japão, como pão francês, carne para churrasco ou mortadela.