Oposição pede que Renan convoque sessão para leitura de requerimento da CPMI

18/05/2005 - 17h53

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A oposição protocolou hoje, na Secretaria Geral da Mesa do Senado, o pedido de instalação de uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar as denúncias de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), bem como o possível envolvimento do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ) no esquema relatado pelo ex-diretor da empresa Maurício Marinho. Segundo o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Alberto Goldman (SP), 222 deputados e 44 senadores assinaram o requerimento em 24 horas.

O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que a oposição vai pedir ao presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que convoque uma sessão do Congresso para que seja feita a leitura do requerimento e se abram os prazos para os partidos indicarem os seus representantes na CPMI.

O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), pediu hoje, em reunião da bancada, que os senadores Cristovam Buarque (DF), Tião Viana (AC) e Eduardo Suplicy (SP) não assinassem o requerimento. Segundo Buarque, a proposta do PT é que a CPMI não se restrinja à corrupção nos Correios, mas investigue também casos de governos anteriores.

Cristovam Buarque disse que considera um equívoco de seu partido não apoiar a instalação da comissão parlamentar mista de inquérito. "É melhor fazer agora do que ter que fazer uma em 2006. Quem garante que não vão surgir outros casos?", questionou o senador. Para ele, "a oposição está sendo oportunista ao propor a CPMI, mas está sintonizada com a vontade popular".

O senador ressaltou que o Brasil vive hoje "uma crise institucional", com a opinião pública desconfiada de todos os políticos. De acordo com ele, quatro fatos levam ao "esgarçamento da democracia": não cumprir promessas de campanha, não fazer as reformas prometidas, não administrar bem a economia e passar a idéia de que há conivência do governo com a corrupção. Destas quatro condições citadas, Cristovam disse que apenas o controle da economia vem sendo realizado pelo governo do presidente Lula.

No início da sessão, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) foi à tribuna para condenar o que qualificou de tentativa da oposição de "criar uma crise, uma situação catastrófica que não bate com a realidade do país". Ela reconheceu que o Brasil tem "um problema estrutural de corrupção", mas destacou que o governo Lula tem tomado todas as providências no sentido de afastar, investigar e colocar o Ministério Público no combate à corrupção.

"Não venham querer transformar esta situação em crise institucional pelo fato de parte da elite nacional não admitir ter perdido a eleição para o presidente Lula", afirmou a senadora. Segundo ela, a resistência de parte da elite brasileira às políticas sociais desenvolvidas pelo presidente Lula ficou evidente nas críticas ao programa Bolsa Família. "Naquele momento, ficou claro que a mensagem que queriam passar é de que o governo gasta muito dinheiro com pobre", disse Ideli.

O líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), também foi à tribuna para manifestar estranheza com as declarações sobre possíveis eventuais crises institucionais. Ele citou especificamente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que disse que o país corria risco de uma crise institucional, e o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) que, no dia 14 de abril, afirmou que o presidente Lula seria "apeado do poder pelo voto" ou por "aqueles que têm dignidade de reagir de qualquer maneira para que o Brasil não viva na desordem em que vive".

"Afastar um governo de qualquer maneira é improcedente e infundado. O país vive no Estado de Direito e vive um intenso debate político", disse Mercadante. O senador acrescentou que nunca foram desbaratados tantos casos de corrupção pela Polícia Federal quanto no governo Lula.