Famílias acampadas em usina no interior de Pernambuco temem ação de despejo

18/05/2005 - 9h49

Márcia Wonghon
Repórter da Agência Brasil

Recife - Acostumadas a enfrentar as dificuldades na luta pela sobrevivência, as 900 famílias de trabalhadores rurais ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do acampamento Chico Mendes, na usina Tiúma, município de São Lourenço da Mata, a 40 quilômetros do Recife, passaram a conviver diariamente com a insegurança e o medo de serem despejadas da área.

De acordo com Ana Paula Gonçalves, coordenadora do setor de produção do acampamento, a Justiça já concedeu quatro pedidos de reintegração aos proprietários da terra, mas todos eles foram suspensos devido à intervenção do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Incra, o Ministério Público e o juiz da comarca de Nazaré da Mata. O caso está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal.

"O fantasma do despejo nos assusta dia e noite, mas, vamos tocando a vida, produzindo, porque temos fé de que a reforma agrária está prestes a se tornar realidade, já que o Incra iniciou o processo de vistoria da área", observou.

Ela revelou que a maior parte das famílias do acampamento é de ex-funcionários da usina, que decretou falência há 17 anos, sem pagar obrigações trabalhistas. "Muitos moradores daqui estavam desempregados . Hoje, além de tirar o sustento da terra, pessoas como o trabalhador Jaime Serafim, de 54 anos, tem renda média mensal de R$ 480,00, vendendo milho, feijão, macaxeira e banana em feiras da região", revelou.

Para Ana Paula, é um atentado contra os direitos humanos uma ação de despejo na área, que estava desativada, coberta por um tipo de mato que não servia nem para pastagem animal e se tornou produtiva pelo esforço dos próprios trabalhadores sem apoio financeiro nem para a compra de sementes. Ela lembrou que a preocupação maior com o fato de as famílias não terem para onde ir. "Muitos moradores daqui estavam vivendo em casas alugadas em favelas, sem emprego e passando fome", contou.